MATEUS, O PUBLICANO



Era uma vez um publicano, cobrador de impostos. Seu nome era Mateus. Trabalhava na alfândega de Cafarnaum, na cobrança de impostos de importação.
Era provavelmente alugada, com alguns funcionários a seu serviço. O negócio ia bem, cada vez mais próspero. Mateus, entretanto, não dormia bem havia dias. É que sempre via por ali um homem justo, chamado Jesus, que falava coisas tão bonitas, tão verdadeiras, tão justas! E ele se sentia tão preso àquele seu negócio lucrativo e tão próspero! 

Entretanto, sentia que estava colocando alta demais a taxa de impostos sobre as importações. Se cobrasse menos do que aquilo ainda dava para pagar o aluguel e os seus funcionários. Mas... como é bom ganhar dinheiro! Nunca é demais! Come-se do melhor, bebe-se do melhor vinho... e os fariseus, que se danem com suas leis ridículas!

Mas a figura daquele homem simples não saía de sua mente, de seu coração. Que poder estranho ele possuía em seu olhar de pobre! Seu olhar penetrava fundo na alma, incomodava como um carvão em brasa a queimar o coração.

Imerso nesses pensamentos, não notara o olhar terrível de um fariseu que o censurava: "O que o senhor quer, sr. fariseu?" perguntou-lhe Mateus, logo que o percebeu. -"Seu publicano de uma estúpido! Ladrão! Injusto! Comilão!" - respondeu-lhe o fariseu.

-"Eu sou santo! Sou perfeito!"-
berrou-lhe o fariseu. "Veja o que você fez! Emporcalhou-me com sua presença e sua conversa! Agora preciso ir ao templo para me purificar!"

Mateus sentiu um calafrio percorrer=lhe a espinha. Teve vontade de matar aquele fariseu nojento e fingido. Mas, ao vê-lo entrar no templo, sentiu sua cólera diminuir-se. Percebeu quão verdadeiras eram aquelas palavras. Resolveu ir ao templo também. 

Quando Mateus entrou, o fariseu o viu e começou a orar em voz alta: "Ó meu Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens: ladrões, injustos, adúlteros, e nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos" (Lc 18,11b-12). 

E saiu, batendo os pés, jogando um punhado de moedas no cofre, que tilintaram. Mateus, cabisbaixo, rezava em silêncio. Ele, na verdade, nem poderia fazer a Deus aquela oração do fariseu. Ele era realmente tudo aquilo que o fariseu disse não ser. E sentiu um profundo arrependimento pela injustiça e desonestidade que até ali guiara sua vida. E sentiu a luz de Deus iluminar-lhe completamente o coração. E, caindo de joelhos, "manteve-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim, pecador' "(Lc 18,13). 

E sentiu o perdão de Deus a purificar-lhe todo o ser. E lembrou-se daquele homem Jesus. Seu olhar dava aquela mesma sensação ao mesmo tempo de remorso e de bem-estar. Agradeceu e saiu,sorridente. Mas, a caminho de sua casa, viu uma multidão numa casa. Curioso, foi até lá e presenciou um milagre: a cura de um paralítico por Jesus. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o que aquele homem disse ao paralítico: "Tem ânimo, filho; os teus pecados estão perdoados" (Mt 9,2). 

Que maravilha! Esse homem é capaz até de perdoar pecados?! E acreditou nisso, porque o paralítico voltou a andar. Naquele tempo as pessoas acreditavam que o defeito físico era castigo pelos pecados cometidos. Se o paralítico se curou, pensavam eles, é porque Jesus perdoou mesmo os seus pecados. E se ele perdoou os pecados, ele é o próprio Deus, ou pelo menos tem muita amizade com Deus. Isso mostrava que Jesus era o Messias esperado. 

Mateus saiu dali confiante, sorridente. Afinal conhecera alguém pelo qual valia a pena vive. E, ao chegar novamente à alfândega, tudo parecia mudado: tinha um gosto amargo. Que fazer? Como mudar uma engrenagem tão bem montada como aquela? Como mudar o sistema? E não conseguia encontrar uma solução, até que o sol começou a se enfraquecer: ia sumir no horizonte todo róseo. Mateus arrumou suas coisas e, sempre pensativo, ia embora. 

Não sabia como dar o primeiro passo em direção a Jesus. De repente, ao olhar adiante, viu-se frente a frente com aquele homem Jesus. Seus olhos faiscavam a misericórdia de Deus. Mateus não pôde articular uma só palavra: estava aterrorizado! Aquele homem parecia ler os seus pensamentos! Procurou limpar a mente, para que ela não fosse lida!

Mas Jesus, com aquela humildade e mansidão de coração, tomou a iniciativa: estendeu a mão para Mateus e disse-lhe apenas uma palavra, mas que tinha o peso imenso de tudo o que Mateus já o vira fazer: "Segue-me"(Mt 9,9).

Mateus, como que dando um pulo no escuro, viu realizada aquela sua oração no templo. Confiou plenamente em Jesus. E o seguiu. mas, quando sua voz voltou, disse-lhe: "Mestre, vem jantar conosco!"

E Jesus foi à casa de Mateus, que lhe deu uma festa, para comemorar sua nova vida e, ao mesmo tempo, despedir-se de seus dias tristes e medíocres de publicano (Lc 5,29). 

E todos os que haviam sido lesados, receberam de volta o que lhes tinha sido roubado pela equipe de Mateus, como também mais tarde iria ocorrer com Zaqueu. E Mateus tornou-se Apóstolo! Pobre como Jesus, mas rico como Deus.

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