A MORTE DE DAVI



Colocamos hoje duas meditações juntas: sobre a morte (de Davi e a nossa), escrita pelo Pe. Fernando Cardoso, e a festa do dia 03 de fevereiro, São Brás, muito querido por causa da bênção da garganta. Tiramos da Canção Nova. 

02 de fevereiro de 2012


O texto do primeiro livro dos Reis narra o fim de Davi e sua morte: “Eu me vou pelo caminho de todo ser humano”, diz o velho Davi, que havia vivido intensamente sua vida: ainda criança, fora escolhido como o ungido de Deus, realizara proezas durante sua juventude, tinha conseguido impor-se sobre algumas tribos; tinha-se tornado o primeiro monarca de Judá, ou Reino do Sul, transformando Jerusalém na capital de seu reino unido. Havia conduzido a Arca da Aliança para Jerusalém, fazendo da cidade um centro religioso para as tribos de Israel. Havia guerreado contra os inimigos ao redor - filisteus, amonitas - mas agora se encontrava no final da existência. Davi aceitou, como qualquer ser humano, sua sorte e, quando chegou a hora de deixar este mundo, foi-se em paz.


O texto que hoje lemos mostra-nos o exemplo de Davi. Após uma vida carregada de realizações, de boas obras, de amor a Deus e serviço aos outros, podemos emigrar definitivamente deste mundo, pois não temos aqui morada permanente.

É triste ver pessoas que se apegam à vida nos últimos momentos, até quando esta, impiedosamente, se esvai. Se conseguíssemos depositar nossa existência nas mãos de Deus, concluiríamos a vida sem sobressaltos e temores. O cristão, com efeito, não se entrega ao cemitério, mas coloca sua vida nas mãos de Deus.


Davi não tinha essa fé que possuímos; falava em ir para o caminho de qualquer homem, que são a morte e a sepultura. Façamos um ato de aceitação de nossa própria morte; dela ignoramos o tempo e as circunstâncias. No entanto, aceitemos a morte em remissão de nossos pecados, assemelhando-nos a Cristo e contribuindo, também, para a redenção da humanidade.

A propósito da morte, podemos fazer diversas observações, abordando apenas os aspectos religiosos. A morte é um problema apenas para os seres humanos. Animais também morrem, mas como a ignoram, não a problematizam. O orador clássico latino, Cícero, dizia a seu respeito que, de forma alguma, deve ela incomodar-nos, pois, enquanto vivemos, ela não existe para nós e, quando morrermos, já seremos nós que não existiremos. O raciocínio de Cícero é sutil, embora não seja argumento a ser levado a sério. Não podemos ignorar que a morte nos acompanha qual sombra, desde o início de nossa vida. 


Ao sermos concebidos, tomamos o trem da morte que, infalivelmente, faz nossa viagem terminar num cemitério. Aquele que não tem fé considera-a como mergulho no nada. Sejamos honestos: é desafiador crer que alguém esteja verdadeiramente vivo, quando se contempla um corpo inerte dentro de um caixão. Efetivamente, quando celebramos exéquias ou missas em sufrágio de alguém, contemplamos muita gente cética quando mencionamos a ressurreição. A fé é dom intransmissível; é Deus quem, com ela, ilumina nossos corações. Podemos saborear-lhe a beleza, mas não temos a capacidade de iluminar ninguém.


Rezemos por todos aqueles que sofrem terrivelmente por considerar a morte como perda definitiva e não passagem pascal para Deus. Lembremo-nos também que o dom recebido transforma-se em tarefa e que devemos conservar essa luz em meio a todas as contradições da existência.

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