DONA ROSA PEREIRA


"Dona Rosa dos Padres"-

Esse era o apelido da Dona Rosa, da vila em que eu morava. Ela era o apoio do pároco e de todos os outros padres que vinhas ao lugarejo.

Vivia uma vida muito simples. Aposentou-se como operária. Criava porcos num chiqueirão ao lado do rio, o mesmo em que o meu pai criava porcos, do qual peguei o “Chiquito” (Ver historinha). O chiqueiro dos porcos cuidado pela D. Rosa era bem próximo ao do meu pai.

Vestia um surrado vestido preto. Sempre preto.O pároco lhe chamava a atenção, mas nunca a vi vestindo outra cor. Acredito que era um propósito de sua vida. Nunca falou a quem quer que fosse a respeito disso. Acho que ela viva uma vida de consagrada no mundo. Era solteira. Ensinava catequese. Eu mesmo fui seu aluno de catequese. Havia em sua casa uma foto de minha primeira comunhão.

Era muito humilde. Às vezes nos encontrávamos na rua. Certa vez ela me disse: “Eu sou nota 9!” - Eu pensei: “Eu achava que a D. Rosa era humilde”! Mas ela dá a si mesma nota 9!”. Mas após alguns segundos, concluiu: “Noves-fora, nada!” E ria de modo gostoso. Era a simplicidade em pessoa.

Certa vez o nosso pároco sofreu um acidente e ficou muito mal no hospital. Sua tripa furara. Foi operado. Na recuperação, o médico falara que ele precisava soltar gases. Se isso ocorresse, estaria curado.

D. Rosa sofreu muito, pois amava-o demais. Não saía do hospital; sempre que podia estava lá. Dois dias depois, viram-na descendo a rua que ligava o hospital à sua casa, correndo, afobada, felicíssima, gritando a todos que a pudessem ouvir (naquele tempo quase todos eram católicos, e mesmo os presbiterianos que havia na vila amavam esse padre): “O padre soltou um pum! O padre soltou um pum! "Parece ridículo isso, mas aquele “pum” salvou a vida do padre, que morreu bem velhinho, com 98 anos de idade em Serra Negra.

Nunca ouvi essa mulher falar mal de quem quer que seja. Às vezes, para provocá-la, eu fingia que estava falando mal de alguém. Ela, imediatamente, lembrava de alguma virtude da pessoa em referência para não falar mal dela:  "Ah!, mas você já comeu o bolinho de arroz que ela faz? É uma delícia! Acho que ninguém faz um bolinho de arroz como ela"! Aí eu lhe falava que estava só brincando, e ela ria comigo. 

Sempre que vou à minha vila natal, agora uma cidade grande, vou visitar o túmulo da dona Rosa dos padres, que é bem próximo ao do Sr. Benedito Lixeiro. É tão simples como ela sempre foi: de reboco simples, sem pintura, apenas uma placa dizendo o dia de sua morte. Rezo lá um mistério do terço.

Simplicidade. Pobreza evangélica. Que alegria poder dispor apenas de Deus! Eu disse “apenas”, mas... Deus é tudo” Diz Santo Agostinho: “No dia em que Deus for tudo em todos, não haverá mais desejos, pois Deus é tudo o que uma pessoa pode desejar!”

Vejo pessoas correndo atrás de dinheiro, nome, vaidades, fama, lutando por um lugar de destaque mesmo nas comunidades paroquiais. É como aquela historinha que conta a vida de um peixe-fêmea. Um dia ouviu a galinha cacarejando loucamente e resolveu dar uma espiada no que estava acontecendo. Colocou a cabeça fora da água e perguntou à galinha o que ocorrera. A galinha, toda vaidosa e orgulhosa, respondeu: “Ora, eu botei um ovo!” A peixa disse : “Ah!” e mergulhou novamente, pensando: “Se eu fosse fazer esse barulho todo cada vez que botasse, um ovo...” Como sabemos, um peixe fêmea bota centenas de ovos de uma só vez. É como certas pessoas da comunidade, que se gabam por uma ou outra coisa que faz, e não veem quantas coisas Deus já lhes deu, e que por mais que façamos, sempre “somos servos inúteis, fazemos o que deveríamos fazer”.

Dona Rosa viveu simples, morreu simples, Tinha Deus como apoio, e a confiança tanto dos padres como da comunidade. Ela foi um instrumento de Deus para nos ensinar que na simplicidade de vida está nossa força. No escondimento está nosso bom exemplo. É na nossa fraqueza que Deus manifesta sua força, como diz S. Paulo.


“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. A paciência tudo alcança. Deus nunca muda. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta!” (Sta Teresa de Jesus).

Este túmulo abandonado é o túmulo da Dona Rosa Pereira. Sem cruz, porque seus familiares viraram evangélicos. Sem pintura alguma. Que tristeza! Apenas resta a plaquinha com seu nome, dia de nascimento e de falecimento: *24/1/1910. + 15/12/1985. Mas seu túmulo guarda coerência com a pobreza extrema em que ela fez questão de viver toda a sua vida. Nunca usava roupas vistosas: toda vida usou vestido preto. Eu tirei essa foto em 8/11/2019. 

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