JULGAR É PECADO

A MISERICÓRDIA

 

Muitas comunidades se despedaçam e, quando não morrem, também não vão adiante, por causa da falta de misericórdia entre os seus membros.

Jesus disse em Mateus 7,1-2: “Não julgueis (os outros) para não serdes julgados (por Deus). Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos”. Ou em Lucas 6,36-38: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai e vos será perdoado. Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também”.

O julgamento nosso e dos demais pertencem a Deus. Ele, que vê o mais profundo de nosso coração, tem a condição de nos julgar. Nós, porém, não enxergamos um palmo diante do nariz: como poderemos julgar?

Por outro lado, diz Tiago 2,13: “A misericórdia triunfa sobre o julgamento”; ou seja, se formos misericordiosos, seremos também julgados com misericórdia, e os pecados que cometemos por fraqueza serão esquecidos.

Vemos, entretanto, que em nossas comunidades há muito julgamento mútuo. Muitos de nós achamos que os outros são errados e nós, os certos. Sempre certas pessoas estão prontas para julgar, mas nunca se colocam nesse julgamento.

Muitos agem até com boa intenção: veem alguma coisa errada na comunidade e se acham no direito de santificar e conduzir a comunidade. Mas aí criticam todo mundo, estão sempre apontando os defeitos dos outros, tornam-se pessoas intragáveis, antipáticas e, o pior de tudo, acabam mais atrapalhando que ajudando. Não somos os donos da verdade. Não podemos julgar.

 

AFINAL, O QUE É JULGAR?

 

Julgar os outros é colocar, nos atos deles, intenções que nunca poderíamos conhecer com certeza, pelo simples fato de que não somos Deus! Por exemplo, se eu vejo uma pessoa entrar na casa vizinha e matar a família toda. O que seria julgar, nesse caso? Seria dizer que essa pessoa vai para o inferno, e que fez isso por maldade.

O que seria não julgar? Seria dizer que a pessoa fez algo errado, e que não pode continuar solta: ou deve ir para um hospício, se estiver louca ou fora de si, ou para a cadeia, se for o caso. Nunca saberemos ao certo o porquê dessa sua atitude.

Veja bem: apontar um erro, em si, não é julgar. Dizer com que intenção foi feito o erro, isso é julgar.

Outro exemplo: se vejo um pobre e logo vou dizendo que ele é um sem-vergonha, vagabundo, estarei julgando! Quem pode saber o verdadeiro motivo pelo qual ele está levando essa vida? Sua vida poderia mudar? Talvez sim, e aí eu poderia conversar com ele e tentar convencê-lo de que deve trabalhar, e ajudá-lo a vencer os problemas que o impedem de trabalhar, isto é misericórdia, e não julgamento.

Assim também se vejo um fulano alcoólatra e eu logo vou dizendo que ele faz isso por sem-vergonhice, eu o estou julgando. Não sei por que ele bebe. Como posso dizer que ele é sem-vergonha? Serei misericordioso, entretanto, se gentilmente eu lhe disse que ele faz mal em continuar bebendo, e o ajudar a sair desse vício. Muitos são tão viciados que não têm força de lutarem contra o(s) vício(s).

Outro tipo de julgamento que acontece muito é entender mal o que o padre fala no sermão. A pessoa se ofende com o que foi dito, principalmente porque achou que o padre falou para aborrecê-la, para corrigi-la, porque não gosta dela, ou porque alguém está “fazendo a cabeça” dele, ou mesmo que o fez por maldade. Ora, às vezes o padre nem percebera que o que falou poderia ofender a alguém. Pode ser mesmo que ele nem tenha notado que a pessoa estivesse ali.

Quando muito, neste caso, a pessoa ofendida deveria ir conversar pessoalmente com o padre, expor o seu problema e pedir a sua opinião a fim de que não haja mais motivo para ofensas. Não é isso o que ocorre! Geralmente a pessoa ofendida sai falando para todos os amigos e amigas que o padre a ofendeu na missa, e o “dito fica pelo não dito”.

Deixe que Deus decida se o que aquela pessoa está fazendo é por maldade ou não, com boa ou má intenção! Simplesmente devemos ser misericordiosos, ajudarmos cristãmente para que as coisas sejam resolvidas de modo cristão, e deixemos o resto por conta de Deus.

Quando é de nossa alçada fazer alguma correção, sejamos fraternos, lembremos sempre à pessoa: “Na certa você não está percebendo o mal que está causando fazendo isso dessa maneira, mas como encarregado desse assunto, tenho por obrigação lembrá-lo (a) de que seria melhor fazer da maneira combinada, etc. etc.”.

Diz São Tomás de Aquino:

“Agimos com raiva principalmente contra aqueles que julgamos estar nos prejudicando de livre vontade”. Se tirarmos de nossa mente o pré-julgamento (=preconceito), se acharmos que a pessoa não está fazendo aquilo por maldade, apenas por ignorância ou falta de capacidade, não ficaremos com raiva dela e a perdoaremos facilmente.

Será que nós ficamos com ódio, ou condenamos ao inferno os nossos próprios filhos, quando eles fazem algo de errado? É porque sempre achamos que eles fizeram isto ou aquilo por criancice e nunca por pura maldade! Nós nos propomos, então, a educá-los para que eles nunca mais façam aquilo de maneira errada.

Ora, por que não agirmos dessa mesma maneira na comunidade? Seríamos todos felizes, viveríamos todos em paz e caminharíamos para uma sociedade melhor, mais santa.

“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” ( Mt 5,7)

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