O PRIMEIRO NATAL


No nascimento de Jesus alguns pastores estavam próximos a Belém vigiando suas ovelhas. Tomavam um chá de ervas ao lado do fogo.
De repente apareceu um anjo muito bonito, que lhes anunciou, com voz forte e clara, que lhes havia nascido, em Belém, o Salvador, o Cristo Senhor (ou seja, o Messias esperado). O sinal que o anjo lhes deu confundiu um pouco suas cabeças, pois todos esperavam um Messias rico, poderoso, que os livrasse das mãos dos romanos, que dominavam tudo. 

“Vocês vão encontrar um menino envolvido em faixas e colocado numa manjedoura”. Como um messias poderia nascer desse jeito? Se fosse alguém aqui da terra que lhes falasse, não acreditariam. Mas acreditaram, pois fora um anjo do céus quem lhes dissera.

Seguiu-se às palavras do anjo a aparição de um coral magnífico de anjos, que cantaram de modo celestial: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados!”. 

O acontecimento foi tão espetacular que eles resolveram ir naquela hora mesmo. Deixaram um rapaz vigiando as ovelhas e partiram, a umas duas horas de caminhada, até chegarem a Belém. Perguntaram onde havia nascido algum bebê, e deram-lhes os endereços de três deles. 

O primeiro estava numa casa bonita, bem construída, de pessoas abastadas, a “nata” de Belém. Nem quiseram atendê-los, pois cheiravam forte a ovelhas. Ninguém gostava do cheiro dos pastores e também do tipo de trabalho que faziam, pois às vezes suas ovelhas invadiam plantações alheias. Eram muito marginalizados. Acharam que seria numa casa chique, pois a profecia dizia que seria um descendente de Davi, e essa era a sua cidade. Muitos haviam chegado de longe para o recenseamento promovido por César Augusto e todos os descendentes desse antigo rei tinham que se registrar ali. O Messias deveria ser um rei. 

O segundo bebê morava na casa de um cobrador de impostos, publicano. Também não os recebeu, pois achava que eram fiscais disfarçados de pastores. Era também uma casa bonita, forte e destacada das demais. O anjo, porém, falara claramente: o sinal seria um bebê envolvido em faixas e colocado numa manjedoura, que todos sabiam ser o nome do cocho em que os animais comem. 

Procuraram, então, um lugar mais pobre, e tiveram uma surpresa: a porta estava aberta. Entraram e o dono da casa os conduziu aos fundos, onde ficava a manjedoura dos animais, que era uma sala ligada à casa: os animais tinham sido colocados numa cobertura no quintal e ali havia apenas um cocho de palhas, e nele um menino recém-nascido, envolto em faixas, tal e qual o anjo lhes dissera. 

Que estranho! Um messias, um salvador nascido numa pobreza daquelas! Mas fora a única casa que os acolhera, e cumprimentaram os pais do menino: Maria, que estava sentada ao lado do cocho, cuidando de seu filho, e José, que parou por uns momentos de fazer um bercinho com madeira velha que lhe conseguiram. 

Alguns comentam a “falta de acolhida” que José e Maria tiveram. Não foi bem assim! Não havia, de fato, nenhum lugar decente para ninguém naqueles dias do recenseamento. Era muita gente, e o lugar era muito pequeno. Belém era um pequeno lugarejo rural. Seus moradores trabalhavam na pequena agricultura.

Os moradores queriam atender bem a todos, mas isso era praticamente impossível naqueles dias do recenseamento. O melhor que puderam arranjar foi o estábulo, onde ficavam os animais, praticamente dentro da casa. Belém, como Nazaré, eram lugares pequenos, cuja economia era a agricultura. 

O Frei Carlos Mesters diz que José talvez fosse um dos migrantes que foram de Belém a Nazaré justamente para tentar uma vida melhor, por falta de recursos em Belém. Essa era a situação que tiveram de enfrentar naqueles dias. Não coloquemos, pois, maldade onde não existia. O povo judeu primava pela hospitalidade. Hospedar os viajantes era algo muito importante e imprescindível para eles.

Os pastores olharam para aquele menino deitado na manjedoura e se enterneceram. Dele saía uma força invisível, como se fosse uma luz que não se via, mas se sentia, que “iluminava” todo o ambiente. Eles não viam essa luz, mas a sentiam dentro deles e isso lhes dava mais confiança de que aquele menino era, de fato, alguém diferente, era de fato o Messias enviado por Deus para salvar o povo. Não entendiam, mas acreditavam. Quantas vezes temos que fazer isso na vida! Crer sem entender..

Estavam nessa contemplação, quando anunciaram a chegada de três pessoas importantes, os famosos reis magos. Os pastores deixaram ali seus presentes, que eram alguns queijos de leite de ovelhas, e se colocaram num canto da sala, aguardando a entrada dos ilustres visitantes.

Eles entraram, com muita simplicidade, mas se via uma nobreza em seu porte, em seu caminhar. Trocaram algumas palavras com José, adoraram o menino, e deram aos pais três presentes: incenso (simbolizando a divindade de Jesus), ouro (representando sua realeza) e mirra (representando sua fragilidade, sua humanidade).

Sua mãe, Maria, sempre calada, como era usual nas mulheres do povo judeu, olhava tudo isso com olhar de reflexão. Sentia-se a estranheza de sua face ao deparar com todos esses acontecimentos.


Anos mais tarde os pastores entenderam melhor como o que acontecia ali era algo inusitado! Santo os pastores, como os magos, que eram pagãos, estrangeiros, eram pessoas marginalizadas pela sociedade judaica: não eram circuncidados, não pertenciam ao povo de Deus, do Deus verdadeiro. 

Entretanto, eles, que não eram nada, estavam ao lado do criador do universo, do senhor de todas as coisas, da luz do mundo, da misericórdia feito gente, da única verdade e vida jamais conhecida. Pena que naqueles dias,não entenderam isso: só sentiram a força docemente avassaladora que expandia os seus corações. 

Nunca se esqueceriam da paz tão completa que sentiram em seus corpos e em suas almas, naqueles momentos em que permaneceram no presépio. O cheiro forte que os animais deixaram havia sido coberto e anulado por uma fragrância perfumada que inundava o local. Parecia que um perfume saíra de onde o menino estava deitado e entrara em composição química com o cheiro próprio da cocheira. 

Olharam para o rosto do menino e não acreditavam na poesia que dali brotava. Não se sentiam sozinhos! Não se sentiam necessitados de nada! Ficariam ali, se pudessem, por hora e dias inteiros, naquela contemplação: um Deus feito homem, feito nenê,dormindo na palha de um cocho.



Nossa vida deve ser um presépio, onde Jesus sempre deve estar, onde não precisamos de nada, de nenhuma falsa necessidade. Dizia isso a Irmãzinha Madalena de Jesus : “Quando vocês (dirigindo-se às Irmãzinhas de Jesus) estiverem carentes e necessitadas de tudo, olhem para o presépio e tudo voltará ao normal!”.

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