O FARISEU E O PUBLICANO


23/10/2022
(do Pe Manoel Júnior, Sorocaba sp)

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 13Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”. – Palavra da salvação.


Prezados irmãos e irmãs!


A parábola do fariseu e do publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, marca a centralidade da celebração e da pregação desse domingo.

Tanto o fariseu quanto o cobrador de impostos eram pessoas de fé. Também para nós, hoje, o problema não é tanto o contraste entre fé e falta de fé, mas entre modos diversos de colocá-la em prática. Ninguém tolera que uma pessoa religiosa viva de forma errada. Todos sentimos simpatia por uma pessoa de bem, independentemente de sua religião.

A oração do publicano torna-se um modelo não só de oração, mas também da atitude de quem reza. Nossa oração deve partir de uma atitude de humildade, reconhecendo que não podemos nos salvar a nós mesmos. É igualmente isso que ouvimos na primeira leitura: a humildade é indispensável para que a oração possa “atravessar as nuvens” e obter resultado. A oração do Salmo se contrapõe aos soberbos que têm o coração atribulado; “o Senhor está perto de quem tem o coração ferido”.

A salvação da pessoa humana somente poderá vir de Cristo, o qual, embora sendo de natureza divina, humilhou-se a si mesmo até à morte e morte de cruz. Foi assim que São Paulo entendeu, bem expresso no final de sua vida: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” (1Tm 1,15). Quando era jovem fariseu, não teria dito palavras semelhantes, porém depois ele se converteu e experimentou, em si mesmo, a obra poderosa do Senhor que o libertou do mal, ou seja, de sua orgulhosa autossuficiência.

O centro de tudo é este: saber-se e sentir-se pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão tanto no contexto individual quanto no comunitário. No contexto individual, devemos confessar que, muitas vezes, educamos nossos cristãos no farisaísmo: damos a eles as leis como norma fundamental de suas vidas. No contexto comunitário, o farisaísmo se manifesta nos grupos da Igreja que se creem os bons, os cumpridores, os fiéis. Estes rezam para que os que não pensam como eles se convertam, porque estão errados! Onde está radicado o mal do farisaísmo? Na nossa visão de Deus, a quem vemos como um comerciante que vende o céu em troca de obras humanas. Esta parábola, prepara muito bem a teologia paulina da justificação que Deus concede a quem não pode se justificar a si mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo, e o Batismo é o seu instrumento.

Aproximar-se de Deus consiste em abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebem as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então, e somente então, aparece Deus com a promessa da salvação.

“O Senhor está perto de quem tem o coração ferido” (Sl 33), canta o salmista. Deus salva os que não tem como se salvar: todos nós. Cristo, no Evangelho, não louva a situação humana de pecado do publicano, nem sua indigência moral, sua escassa prática religiosa. Louva, isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais. Jesus também não condena o fariseu por ser religioso, por levar uma vida moral digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e o julgamento que faz dos outros.

Vem bem a propósito reler hoje a carta de São Paulo a Timóteo, na qual o grande pecador fala de sua imensa confiança em Deus. Aos Coríntios Paulo escreve: “Não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus”. Reconhece-se pecador. Mas agora confiante diz: “Combati o bom combate: já tenho reservada a coroa da justiça que me dará o Justo Juiz.

Pecadores, mas confiantes, porque Deus nos ama: essa é a nossa História.


Pe. Manoel Júnior

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