PAPA JOÃO PAULO II
Currículo de vida de Sua
Santidade
Nascido em
Wadovice-Cracóvia (Polônia) – 18 de maio de 1920
Ordenado sacerdote – 1º de
novembro de 1946
Consagrado Bispo – 28 de
setembro de 1958
Arcebispo de Cracóvia – 13
de janeiro de 1964
Cardeal da Santa Igreja –
26 de junho de 1967
Eleito Papa – 16 de
outubro de 1978
Entronizado solenemente –
22 de outubro de 1978
1. Dados biográficos
Data de nascimento: 18 de
maio de 1920. Batizado Karol (Carlos) Joseph, em 20 de julho do mesmo ano.
Chamado pelo diminutivo Lolek ou Lolus (Carlinhos).
Família: O pai também se
chamava Karol. Karol Wojtyla, nascido em 1879, foi oficial de intendência do
exército austríaco até a recuperação da independência da Polônia, em 1918.
Deixando o exército austríaco, ingressou no polonês e passou a exercer funções
administrativas em Wadovice. Faleceu durante a segunda guerra mundial, em 18 de
fevereiro de 1941, com 62 anos. A mãe chamava-se Emília Kaczorowska. Faleceu
quando Karol tinha apenas 9 anos, em 1929.
Teve um irmão e uma irmã,
ambos mais velhos do que ele. O irmão, Edmond, formou-se em medicina. Morreu em
1932, vítima de epidemia de escarlatina. A irmã morreu com apenas alguns dias
de vida, em 1914. Karol foi o único sobrevivente. Aos 21 anos, ficou sem pais e
sem irmãos. A família era humilde e sofrida.
Terra natal: Wadovice, a
30 Km de Cracóvia, considerada capital religiosa da Polônia, às margens do
Skawa e no sopé dos Beskides. Tinha em torno de nove mil habitantes em 1920,
dos quais, dois mil, mais ou menos, eram judeus. Um dos grandes amigos de Karol
foi um judeu. Este amigo testemunha que Karol, ao contrário dos demais
conterrâneos, nunca teve qualquer indelicadeza para com os judeus. Hoje, a
cidade tem quinze mil habitantes.
Infância e juventude: O
amigo judeu registra que, com 13 ou 14 anos, Karol, ajudado por um dos seus
professores, fundou um grupo de congregação mariana. Fundou também uma pequena
companhia teatral.
Em 1938, a fim de que
Karol pudesse continuar os estudos, o pai mudou-se com ele para Cracóvia.
Passaram a morar num apartamento pequeno e modesto, de apenas dois aposentos.
Karol inscreveu-se na faculdade de letras da Universidade e também na “Escola
de arte dramática”. Passou a freqüentar sua nova paróquia, dirigida pelos
salesianos, que tinha Santo Estanislau Kostka como padroeiro.
Foi em Cracóvia que Karol
enfrentou as conseqüências da segunda guerra mundial. Abalada pelas múltiplas
dificuldades da guerra, a saúde do pai declinou rapidamente, vindo a falecer em
1941. Encontrando-se sozinho na vida, Karol foi a Wadovice e convenceu um jovem
amigo e seus pais a morarem com ele em Cracóvia. A mãe do amigo passou a cuidar
da casa, o pai trabalhava de motorneiro, e os dois jovens estudavam e faziam
teatro juntos.
Em 26 de outubro de 1939,
o governador ordenou serviço obrigatório para todos os poloneses de 18 a 60
anos. Quem não estivesse empregado, não teria a permissão alemã de livre
circulação. Para fugir à perseguição do nazismo, Karol empregou-se na usina
química Solvay. Inicialmente, o trabalho de Karol era numa pedreira, depois foi
transferido para a usina propriamente dita. Pelo teatro e por outras
articulações, Karol colaborou intensamente na resistência dos poloneses contra
os invasores nazistas. Para despistar a polícia e não ser preso, precisou
deslocar-se diversas vezes de um lugar para outro.
Vocação e Preparação ao
Sacerdócio: Deus sempre surpreende. No caso de Karol, serviu-se de um alfaiate do
quarteirão onde morava para despertar nele a vocação sacerdotal. Era um homem
simples, amigo dos pobres. Embora portador de uma doença que o fazia definhar
lentamente, sempre se manifestava alegre e feliz. Karol repetia muitas vezes
que nesse homem resplandecia a beleza de Deus.
Em outubro de 1942, Karol
entrou no seminário clandestino criado pelo Arcebispo de Cracóvia, Dom Adam
Stefan Sapihea. Curiosamente, anos antes, Karol havia dito ao Arcebispo que não
queria ser padre. O Arcebispo estava em visita a Wadovice. Foi visitar o
colégio local. Karol foi escolhido para saudá-lo. Impressionado pelas palavras
de Karol, Dom Sapihea perguntou se não havia pensado em tornar-se padre. Disse
que não, pois desejava prosseguir seus estudos de língua e literatura polonesas
na universidade. O Arcebispo concluiu: é pena. Este rapaz irá muito longe.
Naturalmente, o estudo era clandestino e à noite.
Quando, em 1944, Varsóvia
se rebelou contra a invasão dos nazistas, estes acabaram concentrando todo seu
furor contra Cracóvia. O bispo de Cracóvia acabou escondendo Karol no porão do
Arcebispado, onde passou cinco meses sem ver o sol. Foi em 1944, no dia 12 de
fevereiro, como operário e seminarista clandestino, que Karol sofreu um
acidente que quase lhe roubou a vida. Ao retornar da Solvay, foi atropelado por
um caminhão alemão. O diagnóstico médico acusou comoção cerebral com grandes
ferimentos na cabeça. Mas, um mês depois, saiu curado do hospital.
Ordenação e ministério
presbiteral: O arcebispo de Cracóvia, Dom Sapieha, ordenou Karol presbítero no
dia primeiro de novembro de 1946. Pe. Karol celebrou sua primeira missa na
igreja de sua paróquia, junto ao altar de Maria Auxiliadora, onde, anos antes,
rezando, amadurecera sua vocação. Como padre jovem, cheio de vida, estudava e
pregava, organizava grupos de jovens e escrevia peças de teatro e poesias,
passava horas no confessionário e cantava nos corais. Com os jovens também
gostava de esquiar nos montes Tratas ou de navegar nas torrentes do Vístula. Em
1947, o Arcebispo Sapihea enviou Pe. Karol a Roma. Lá, por dois anos, estudou
no Angelicum, universidade eclesiástica dirigida pelos dominicanos. Aí, em
1948, obteve seu doutorado em filosofia e moral, com tese sobre a ética em São
João da Cruz.
Durante este tempo, nos
fins de semana, atuava numa paróquia de periferia, especialmente com os jovens.
Durante este tempo, também, visitou a Bélgica, onde conheceu de perto o
movimento Juventude Operária Católica (JOC), fundada pelo Pe. Cardijn. Visitou
também a Holanda e a França, onde conheceu a experiência missionária de padres
no meio operário e a participação dos leigos.
Em 1949, Pe. Karol
retornou a Cracóvia, onde continuou seus estudos para doutorar-se em teologia
pela Universidade Estadual. Ao mesmo tempo, trabalhava numa paróquia,
prontificando-se a substituir todos os padres que se encontrassem em
dificuldades nas aldeias da montanha. Em 1951, doutorou-se e habilitou-se a
lecionar na Universidade de Cracóvia. Em seguida, tornou-se professor no
seminário. Em 1954, assumiu a cadeira de filosofia na Universidade Católica de
Lublin. Passou a ser assistente dos estudantes e dos formados da Universidade
de Cracóvia.
Nomeação e ministério
episcopal: No dia 04 de julho de 1958, quando tinha 12 anos de padre e 38 de
idade, Pe. Karol foi nomeado bispo auxiliar de Cracóvia, sendo consagrado no
dia 28 de setembro seguinte. Escolheu como lema “Totus Tuus”, em relação à
Virgem Maria, de um santo francês, Louis-Marie Grignion de Montfort.
No dia 13 de janeiro de 1964, foi nomeado
Arcebispo de Cracóvia. Bispo conciliar, participou da comissão de redação do
documento Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) sobre a Igreja no mundo de
hoje. Pronunciou-se com freqüência nos debates conciliares, acentuando a
abertura e a prontidão da Igreja para o diálogo com os homens em qualquer
situação, a dedicação permanente e prioritária à evangelização em linguagem
própria dos tempos atuais.
Em 26 de junho de 1967,
foi nomeado Cardeal pelo Papa Paulo VI. Em outubro desse mesmo ano, deveria
participar do Sínodo Mundial de Bispos em Roma. Porém, como o Cardeal Arcebispo
de Varsóvia, Stefan Wyszynski, histórico opositor do regime comunista, não
recebera passaporte para ir a Roma para participar também do Sínodo, em
solidariedade, o Cardeal Wojtyla não foi. No Sínodo de 1969, o Cardeal
Wyszynski foi novamente escolhido como delegado pelos Bispos poloneses. Desta
vez, recebeu passaporte.
Como o Cardeal Wojtyla fora convidado pessoal
do Papa para o mesmo Sínodo, os dois foram juntos. Daí para frente, participou de
todos os Sínodos (realizados de três em três anos), sendo que no de 1971 foi
eleito Secretário-Geral do próprio Sínodo.
O Pe. e Bispo Karol
Wojtyla publicou cinco livros, escreveu mais de 500 artigos, algumas comédias e
diversas poesias. Falava, além do polonês, latim, italiano, francês, inglês e
alemão. Mais tarde, como Papa, exercitou-se em vários outros idiomas,
especialmente para suas viagens apostólicas. Nas duas visitas ao Brasil,
pronunciou-se em nossa língua. Nos encontros com os Bispos brasileiros nas
visitas quinquenais a Roma (Visitas ad Limina), faz questão de falar em
português.
Eleição e ministério
papal: No dia 16 de outubro de 1978, o Cardeal Karol Wojtyla foi eleito Papa,
assumindo o nome de João Paulo II. Sucedeu a João Paulo I, falecido no dia 28
de setembro de 1978, que por apenas 33 dias dirigira a Igreja, sucedendo a
Paulo VI, falecido no dia 06 de agosto do mesmo ano. Foi o primeiro Papa
polonês da história da Igreja, o primeiro não italiano desde 1522 e o mais
jovem (58 anos) desde 1846. Sua entronização solene no ministério petrino foi
em 22 de outubro de 1978.
João Paulo II
caracteriza-se como pessoa de intensa oração e de grande atividade. Até maio de
1996, realizou 125 visitas a Dioceses da Itália e 245 a paróquias de Roma. Fez
71 viagens apostólicas internacionais, tendo estado em mais de cem países. Em
alguns mais de uma vez.
Escreveu numerosos
documentos. Tudo como se verá adiante. Convocou e desenvolveu o Sínodo para os
Bispos da Europa e da África. Tem em vista o Sínodo para os Bispos das
Américas, da Ásia e da Oceania. Em seu pontificado foi concluída a redação do
Código de Direito Canônico, reformulado com base no Concílio Vaticano II, cuja
finalidade é “criar na sociedade eclesial uma ordem que, dando a primazia ao
amor, à graça e aos carismas, facilite ao mesmo tempo seu desenvolvimento
orgânico na vida seja da sociedade eclesial, seja de cada um de seus membros”
(Constituição de promulgação).
Foi redigido e promulgado
o Catecismo da Igreja Católica, compêndio doutrinário, para servir de “texto de
referência, seguro e autêntico para o ensino da doutrina católica, e de modo
muito particular para a elaboração de catecismos locais. É oferecido também a
todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis
da salvação” (Cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos animados
pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o
conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica…. é oferecido a todo o homem
que nos pergunte a razão de nossa esperança (Cf. 1 Pd 3,15) e queira conhecer
aquilo em que a Igreja Católica crê” (Constituição de promulgação).
João Paulo II realizou
seis consistórios com nomeação de novos Cardeais. Ao todo, nomeou 137, dos
quais 123 estão vivos e 100 seriam votantes (não completaram ainda oitenta anos
– em março de 1995) num conclave (reunião de cardeais para a eleição de um novo
Papa). Dos 137 Cardeais nomeados por João Paulo II, 77 são da Europa (30 da
Itália); 18 de América Latina; 15 da Ásia; 14 da América do Norte; 10 da
África; 3 da Oceania.
Ele promoveu alguns
encontros marcantes no campo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Entre
eles, destaca-se o primeiro Dia Mundial de Oração pela Paz com representantes
das Igrejas Cristãs e Comunidades Eclesiais e Religiões do Mundo, no dia 27 de
outubro de 1986, em Assis, Itália. Tomou também a iniciativa de visitar a
sinagoga de Roma, no dia 13 de abril de 1986.
Manifesta um carinho
especial pela juventude. Instituiu as Jornadas Mundiais da Juventude, com dez
edições até agora. Já marcou a próxima para Paris, França, no verão de 1997.
João Paulo II já realizou
muitas canonizações (declaração de santidade de uma pessoa) e muitas
beatificações. Entre as beatificações, está a de Madre Paulina, fundadora das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição, no dia 18 de outubro de 1991, em Florianópolis-SC.
Entre as canonizações, está a dos Mártires das Missões, Padres Roque Gonzales,
Afonso Rodrigues e João de Castilho, em Assunción, Paraguai, em maio de 1988.
João Paulo II foi também
duramente provado pelo sofrimento. Em 13 de maio de 1981, foi vítima de um
atentado em plena praça São Pedro. O tiro de que foi alvo submeteu-o a uma
delicada cirurgia com extração de parte do intestino. Em julho de 1992,
precisou de uma nova internação hospitalar. Desta vez para extirpar um pequeno
tumor também no intestino. Em 1994, em conseqüência de uma queda, fraturou o
fêmur.
Em dezembro de 1994, a
Revista Time elegeu João Paulo II “Homem do ano”. Justificou assim a escolha:
“em um ano em que tantas pessoas lamentam a deterioração dos valores morais ou
buscam pretextos diante de um mau comportamento, o Papa João Paulo II levou
adiante, com determinação, sua visão de uma vida reta e convidou o mundo a
fazer o mesmo. Por essa retidão, ele é o ?Homem do ano?”. Em matéria de 25
páginas, a revista apresenta a biografia do Papa, com destaque para suas
alegrias e sofrimentos: sua angústia pela situação da Bósnia e por outras
guerras no mundo, pela decadência dos valores morais e, sobretudo, sua
preocupação com a santidade do ser humano para a qual, segundo o texto, “o Papa
é uma força moral”.
2. Diretrizes de João
Paulo II em seu Ministério Petrino
No dia seguinte ao de sua
eleição papal, na mensagem “urbi et orbi” (à cidade – de Roma – e ao mundo),
pronunciada diante dos Cardeais que o elegeram, João Paulo II traçou algumas
linhas básicas de seu Pontificado:
- Permanente importância
do Vaticano II:
garantir-lhe a devida
execução;
estabelecer sintonia com
ele para tornar explícito aquilo que nele está implícito;
aprofundar particularmente
a colegialidade que associa intimamente os Bispos ao sucessor de Pedro e eles
entre si;
implementar o exercício da
colegialidade, através dos organismos, em parte novos e em parte atualizados,
que podem garantir a união dos espíritos, das intenções e das iniciativas.
Neste sentido, ocupe o primeiro lugar o Sínodo.
- Fidelidade global à
missão:
conservar intacto o
depósito da fé;
confirmar os irmãos
segundo a ordem especial de Jesus a Simão Pedro;
apascentar, como prova de
amor a Jesus, os cordeiros e as ovelhas do rebanho.
- Fidelidade à grande
disciplina da Igreja, que significa:
adesão ao magistério de
Pedro especialmente no campo doutrinal;
respeito pelas normas
litúrgicas vindas da autoridade eclesiástica;
correspondência generosa
às exigências da vocação sacerdotal e religiosa;
autêntica vivência do ser
cristão por parte de todos os fiéis, na obediência aos pastores sagrados e na
colaboração às iniciativas e obras a que são chamados.
- A causa ecumênica.
- Liberdade religiosa e
justiça no mundo:
oferecer um contributo
positivo para as causas permanentes e dominantes da paz, do progresso e da
justiça internacional;
trabalhar pela
consolidação das bases espirituais sobre as quais deve apoiar-se a sociedade
humana;
estender as mãos e abrir o
coração a todas as gentes e a todas as pessoas que se vêem oprimidas por alguma
injustiça ou discriminação no que diz respeito, seja à economia e à vida
social, seja à vida política, seja ainda à liberdade de consciência e à justa
liberdade religiosa.
(Falecimento: 02/04/2005. Canonizado em 27/04/2014)
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