JESUS E ZAQUEU (Lc 19,1-10)

sábado, 26 de novembro de 2011

Gosto muito de aplicar a história de Zaqueu em nossa própria vida. Zaqueu, o pecador (publicano, chefe dos cobradores de impostos, o que equivalia a dizer “Chefe dos ladrões”), e muito rico.


Ele ouvira dizer que Jesus estava passando por ali e se interessou em conhecê-lo, mas não queria se comprometer com o que ele ensinava. Quantas vezes fazemos isso! Falamos de Jesus, ouvimos o que ele disse, mas permanecemos de longe, sem nos comprometer! Muitas vezes chegamos até a discutir o Jesus Histórico, passagens da bíblia, mas não levantamos um só dedo para praticar tudo isso.

A multidão era grande e ele era muito pequeno. Não via nada. Então, resolveu subir numa figueira, para ver Jesus, sem ser visto por Ele. .

As figueiras da Palestina são árvores frondosas, altas, mas não são encopadas, ou seja, os galhos são revestidos de folhas esparsas, que permite a alguém que nela suba ver tudo, apesar de não ficar muito à vista de quem ele estiver vendo .

Como seria o dia a dia de Zaqueu? Imagino, nas estrelinhas da bíblia (por isso é que dei esse nome a esta série), que era um homem muito ocupado, pois chefiava os cobradores de pesados impostos, que oprimiam o povo.

Tanto o Estado Judaico como o Estado Romano (A palestina era colônias do Império Romano), por meio desses impostos, eram monopolizadores da circulação das mercadorias, o que proporcionava vultuosas arrecadações. Esses impostos eram cobrados por esses cobradores que Zaqueu chefiava.

Além dos impostos, havia taxas para transportar mercadorias de uma cidade para outra e de um país para outro. Esses impostos e taxas se tornaram insuportáveis no tempo de Jesus Cristo (Notas da Bíblia Pastoral).
Os impostos eram: 1- O tributo (imposto pessoal e sobre as terras); 2- uma contribuição anual para o sustento dos soldados romanos que ocupavam a Palestina; 3 – imposto sobre a compra e venda de todos os produtos (B.P.)

Naquele dia Zaqueu havia se levantado bem de manhã e fizera uma reunião com os demais cobradores . Reclamava com eles que o imposto daquela semana havia sido pouco. Desconfiava que alguém havia pegado mais do que o devido como pagamento ( é assim que eles eram pagos: com uma porcentagem do que haviam recebido).

Um deles foi acusado pelos outros de ter roubado a coleta em quase metade, uma quantia muito superior à que lhe cabia. Zaqueu se irritou, mandou chamar o homem, que estrategicamente faltara à reunião e pediu-lhe a devolução de tudo o que coletara e roubara. Como ele devolveu, não o castigou como pedia a lei: apenas despediu-o de modo desonrado do grupo: ele ficara sem emprego.

Terminando a reunião, Zaqueu liberou os colegas para o trabalho. Pegou tudo o que o outro havia coletado e colocou no cofre destinado ao Império Romano. Em seguida, colocou tudo o que o outro havia roubado no seu cofre particular.

Estava irritado e aborrecido com tudo. Resolveu, então, dar-se um dia de folga naquele dia. Avisou o seu servo que o acompanhasse, com o necessário para a alimentação e um jumento com uma tenda. Foram a um lugar onde havia um tipo de caça pequena. Queria, mesmo, era ficar um pouco sozinho, longe de tudo.

Duas horas depois de tentar caçar, ele não conseguira nada. Entrou na tenda, comeu algo, tomou um pouco de coalhada. Sentia-se muito solitário, apesar de estar ali ao seu lado o seu servo, e de ter uma esposa maravilhosa e vários filhos.

Aquele deserto o oprimia. O que valia ali o seu dinheiro todo? Nada! Deixou seu servo ali sozinho, tomando conta das coisas e saiu um pouco. Queria pensar um pouco mais sobre esse assunto: como a riqueza é relativa.

Foi nesses momentos de solidão física, já que a solidão íntima ele já há muito sentia, que o Espírito Santo aproveitou uma brechinha para entrar na vida dele. É como diz o livro da Sabedoria 18,14-15:

“Enquanto um profundo silêncio envolvia todas as coisas e a noite estava pela metade, a tua palavra onipotente veio do alto céu, do teu trono real, como guerreiro implacável, e se atirou sobre uma terra condenada ao extermínio”.

Zaqueu, em pleno dia, estava com a alma obscurecida pelo pecado, pela ganância, pelo enfado do mundo. A palavra de Deus estava descendo para dentro dele, não para levá-lo ao extermínio, como o texto lido, mas para exterminar suas dúvidas, a insignificância de sua vida.

O enfado, o desânimo, o corriqueiro em nossa vida vem do fato de atendemos a todos os apelos de nosso corpo e de nossa carne. Tudo se torna muito comum, muito sem sentido.

A riqueza nos torna poderosos diante do mundo, diante dos outros, e nos tornamos pequenos “deuses”, achando que tudo está ao nosso alcance.

Entretanto, há uma hora (e ela chega para todos), em que nos chateamos com tudo o que é criado. Felizes os que descobrem que o único que nos pode tornar realmente felizes é o Criador, nosso Deus Pai/Mãe.

Como em Oséias 2,16, Deus seduziu Zaqueu, levou-o ao deserto para ali “conquistar-lhe o coração”. E colocou uma semente de dúvida lá dentro. A dúvida é o início de muitas conversões, de muitas mudanças de vida. Quando nos cimentamos numa idéia e não admitimos possibilidade de mudança, a graça de Deus nada poderá fazer. Talvez seja essa a “praga” do fanatismo, a idiotice dos fanáticos: não admitem que, se não tudo, pelo menos uma parte do que dizem pode estar errada.

Na sua caminhada, Zaqueu abrigou-se debaixo de outra sombra e lembrou-se de sua infância, em que as brincadeiras ocupavam a maior parte do seu tempo. Era livre, não tinha muitas preocupações, vivia feliz. E agora?

Olhou para o nada que se estendia à sua frente. Ali sua riqueza não tinha valor algum. Só sobravam ele mesmo e Obed, seu fiel servo, que o aguardava na tenda, a alguns metros dali. Tudo o que ele precisava, ali no deserto, era sua saúde, a água, um pouco de alimento, e a amizade. Só isso! Tudo o mais seria supérfluo e até inútil.

Zaqueu viu sua vida passar como num filme à sua frente e chorou: quantas desilusões, quanta solidão, quantas frustrações! Quanto desespero pelo dinheiro!

Lembro u-se do homem que deixara sem emprego, horas atrás, e de como fizera pior do que ele, ao apossar-se indevidamente do que não lhe pertencia. Como condenara alguém, se fizera pior do que ele? E ainda o prejudicara!

Um vazio encheu o lugar do seu peito onde havia, até a algum tempo atrás, um coração. Agora só havia um pedaço de pedra, que não sabia mais amar.

Sua avó, certa vez, lhe dissera um trecho do profeta Ezequiel 11,19:

“Darei a eles um coração íntegro, e colocarei no íntimo deles um espírito novo. Tirarei do peito deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne, para que possam amar”.

“Que poderei fazer para ser feliz?”- Perguntou Zaqueu para si mesmo. “O dinheiro é bom, mas como eu me sinto tão infeliz, apesar da riqueza? Onde está o meu erro? Será ainda possível para mim a felicidade?”.

Não sabia as respostas.Resolveu voltar à civilização, ao dinheiro, ao conforto de sua casa. Voltou ao local onde Obed o esperava e à tardezinha já estavam na cidade, Jericó. Obed levou tudo para casa e Zaqueu parou na cidade para verificar o que fazia aquela multidão alvorossada à sua frente. Disse alguém “É Jesus de Nazaré que chegou à nossa cidade! Ele é o maior profeta que existe! Faz muitos milagres! Suas palavras são doces como o mel, mas às vezes amargas como o fel!”.

Zaqueu ouvira muito falar de Jesus e suas curas, suas palavras profundas e questionadoras, andava pobremente pelas ruas e estradas, com um grupo de discípulos. Mas sobretudo, como era famoso! Pobre e famoso! Como isso é possível? - pensava Zaqueu. Decerto não havia solidão na vida daquele profeta. A riqueza, ao contrário da pobreza, nos consegue muitos amigos, mas todos ou quase todos falsos, o que dá muita insegurança. A pobreza nos traz talvez menos amigos, mas todos sinceros e prontos para qualquer coisa para nos ajudar e defender.

Entretanto, Zaqueu não quis comprometer-se com aquele bando de andarilhos. Subiu, então numa figueira grande, que havia ali, para ver sem ser visto. O que viu lhe agradou muito: pessoas felizes, alegres, andando sorrindo e cantando ao lado de Jesus e falando com ele e entre si. Era uma alegria contagiante.

De repente, porém, Jesus mudou seu rumo e começou a caminhar em direção à figueira. À medida em que se aproximava, Zaqueu ficava gelado e quase caiu da árvore. Sentia que seu anonimato não ia durar muito. A bíblia nos conta essa parte:

“Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: 'Zaqueu, desça depressa dessa árvore, porque hoje preciso ficar em sua casa.” (Lc 19,5).

Quando os olhos de Jesus encontraram os de Zaqueu, saíram como que faíscas elétricas e foi transmitida ao baixinho uma paz que ele nunca antes havia sentido, uma tranquilidade só comparável às águas tranquilas de um lago.

“Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria.”(Lc 19,6).

Aqui começa o relato referente aos invejosos e caluniadores, essa corja que estraga a vida de muita gente:

“Vendo isso, todos começaram a criticar dizendo:'Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!'.” Todos se acham dignos de receber Jesus, mas são poucos que podem fazer isso de verdade, como diz Mateus 22,13: “Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Jesus entra onde ele é acolhido. Zaqueu o acolheu não só em sua casa, mas também em sua vida: “Recebeu Jesus com alegria”, diz Lc 19,6.

Hoje em dia criticam os que se misturam aos que vivem nas ruas e lugares não recomendados, como os homens e mulheres da “Aliança da Misericórdia”, os da “Toca de Assis” etc. Chamam alguns tipos de apostolado ou de evangelização de “coisa de louco”. Pois Jesus deveria, então, ser chamado de “louco”, pois fazia coisas absurdas para a sociedade do tempo e daquele lugar, como enfrentar os ricos e poderosos, incluindo aqui as autoridades do tempo e do templo. Os próprios parentes dele achavam que ele estava louco, e queriam levá-lo para casa (veja o artigo anterior, sobre Jesus em Nazaré). As atitudes de Jesus contrariavam tudo o que ele aprendera em casa e na sinaoga. Vinham de uma convicção superior e eterna; não eram muito bem entendidas para a mentalidade da época. Aliás, até hoje gera muita contestação.

Essas coisas que Jesus fazia, como encostar as mãos nos leprosos, doentes, mortos, estar e tomar refeição com os chamados “pecadores” da época, o deixavam impuro legalmente. Na verdade, os que gostavam de criticar talvez nem reparassem que, ao tocar nesses considerados impuros ou ao estar com eles, em vez de Jesus ficar impuro, eles é que se purificavam!

Jesus, ao entrar na casa de Zaqueu, não se preocupava se ia ou não se tornar legalmente impuro, mas tinha, sim, a intenção de purificar tudo e a todos, tornando aquela casa temente a Deus.

Zaqueu, extasiado com aquela presença santificadora, resolveu pôr em prática o que havia pensado tantas vezes:

“Zaqueu ficou de pé e disse ao Senhor: 'A metade dos meus bens, Senhor,eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc 19,8). Duas coisinhas: 1- ficar em pé é a atitude de quem está para fazer algo, de quem vai agir; 2-- devolver quatro vezes o que roubou era a lei do tempo para quem quisesse se redimir.

Quantas vezes estamos diante da Eucaristia, que é o mesmo Jesus com quem Zaqueu ficou frente a frente, e não sentimos essa presença santificadora. Por que será?

Jesus sorriu, deu um tapinha nas costas do baixinho e disse, com certa solenidade:

“Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,9). Em seguida, contou uma parábola para censurar os que haviam murmurado contra a sua atitude de ir à casa de Zaqueu.

Aqui cabe uma meditação profunda sobre o perdão que pedimos a Deus e o que muitos deveriam pedir e não pedem. Poderíamos parafrasear Jesus dizendo aos que pedem perdão, aos que querem sair da lama e recomeçar uma vida nova, como Zaqueu: “Hoje entrou a salvação em sua casa, porque você também é filho de Deus, eu enfrentei a paixão e a morte para salvar você, pois vim para procurar e salvar o que estava perdido. Seja benvindo à minha celeste mansão!” Entretanto é com muita tristeza que vejo muitos recusando o perdão divino por tantos motivos que nem quero ventilar aqui, pois poderia estar fazendo um mal juízo.

Busquemos em nossa vida quais amarras ainda temos com o pecado, com os vícios, com o mundo sem Deus! Quais coisas estão ainda travando e atrapalhando a nossa caminhada para a salvação eterna? Sejamos corajosos, enfrentemos a realidade de nossa vida e não desanimemos! Se nos acharmos fracos e com medo, peçamos a força a Jesus! Diz a Joyce Meyer, pastora americana, que Jesus pediu que não tivéssemos medo, mas não nos pediu para não tremer e não suar frio. O medo é comum a todos nós, mas, mesmo com medo, peçamos a ajuda divina. Ele nos dará a coragem que nos falta, o apoio, a luz, a força, e aos poucos veremos nossa vida se transformar da água da mediocridade para o vinho da santidade, da terra árida para a fonte de água pura e fresca.

Muitas pessoas vivem para o dinheiro e para os bens materiais; outros, vivem para a estética do corpo e vaidades extremas; outros se isolam num mundo egoísta e individualisa, vivendo uma vida mirrada de solidão maléfica.

Sim, pois há uma solidão maligna, a dos que se isolam por egoísmo, avareza e individualismo, e há uma solidão benigna, a dos que se isolam até diariamente, mas, como Jesus, para se encontrarem consigo mesmo e com Ele, na intimidade do silêncio do coração, e desse modo descobrirem o “outro”, a missão, o trabalho em favor dos necessitados e marginalizados.

A luz só tem sentido quando ilumina a casa, a todos. Se ficar escondida, por maior qualidade e intensidade tenha, não vai adiantar nada.

Ter coragem de receber Jesus, como Zaqueu, mesmo sendo ainda pecador, mesmo que ainda esteja no abismo, na lama, no pecado, e mudar tudo o que tiver de mudar na própria vida, eis o caminho, eis aqui a minha sugestão.

E digo mais: você consegue tudo do que precisa para a santidade, com a oração. Se não tiver ainda costume de rezar, comece com oraçõezinhas pequenas, como “Jesus, eu te amo”, “Jesus me ajude!” , “Maria, quero melhorar”, “Sagrados e Imaculados Corações de Jesus e Maria, sede minha alegria” , e assim por diante, muitas vezes por dia. Aos poucos vai crescendo em você a necessidade da oração. Se aumentarmos um minuto por semana o nosso tempo de oração, em um ano estaremos rezando 52 minutos. Se quiser ler mais sobre esse assunto, procure o texto “A oração”, neste blog.

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