AS 3 SOLIDÕES DO PAPA

 O Papa Francisco vai lançar em dezembro o livro "Ritorniamo a sognare" (Voltemos a sonhar). O Vatican News publicou um trecho desse livro, que resumimos a seguir. Quem desejar ver o texto extraído do livro por inteiro, clique aqui: LINK .


Primeira solidão: a doença

O Papa tinha 21 anos, e contraiu uma doença muito grave, em que teve a primeira experiência de limitação, dor e solidão. Durante meses não sabia quem era, se iria morrer ou viver. Todos os envolvidos na doença achavam que ele ia morrer. Foi levado ao hospital em 13 de agosto de 1957. Ele descreve o período da doença, mas o importante, pelo menos a meu ver, é o que ele constatou: 

"(As enfermeiras que me ajudaram e graças a elas estou vivo) Ensinaram-me o que significa usar a ciência e o saber para ir além, para responder às necessidades específicas" (elas ministraram o dobro da dose do remédio que o médico receitara e isso salvou sua vida).

"Daquela experiência aprendi outra coisa; como é importante evitar consolos superficiais. As pessoas vinham me visitar e me diziam que eu ficaria bem, que nunca mais sentiria toda aquela dor: palavras sem sentido e vazias, ditas com boas intenções, mas nunca chegaram ao meu coração. A pessoa que me tocou mais profundamente, com seu silêncio, foi uma das mulheres que marcaram minha vida: Irmã Dolores Tortolo (...). Veio me ver, pegou minha mão, me deu um beijo e ficou em silêncio por um longo tempo. Depois me disse: 'você está imitando Jesus'. Não precisava dizer mais nada. Sua presença seu silêncio, me deram um profundo consolo. Depois dessa experiência, tomei a decisão de falar o mínimo possível quando visito pessoas doentes. eu só lhes dou a mão".  


Segunda solidão: na Alemanha

A segunda experiência de solidão foi em 1986, o "Covid do exílio", em que o Papa fora à Alemanha concluir sua tese e se sentia como um peixe fora da água. Desejava voltar à Argentina, sua terra natal. 

A Argentina havia ganhado da Alemanha o campeonato mundial  e a situação de Francisco era meio delicada, pois era o único argentino em meio a tantos alemães.  Diz ele no livro: 

"Era a solidão de uma vitória sozinho, porque eu não tinha ninguém para compartilhá-la. A solidão de não fazer parte de nada, que faz de você um estranho. Leva para longe de seu lugar e coloca-o num lugar que você não conhece e, nesse lugar, você se dá conta que o que realmente importa é o lugar que você deixou". 


Segunda solidão: em Córdova

A terceira experiência de solidão, o terceiro "covid" de Francisco foi em Córdova, de 1990 a 1992. Ele se refere, nessa experiência, ao seu modo de comandar, primeiramente como provincial, e depois como reitor: "Eu certamente tinha feito algo de bom, mas às vezes era muito severo". 

Passou lá um ano, dez meses e treze dias. Só saía da casa para ir aos correios. Foi uma espécie de quarentena, de isolamento, e isso o levou a amadurecer as ideias: escrevia e rezava muito. 

Diz que tivera tido uma vida organizada e ordenada na congregação a que pertencia (Companhia de Jesus): professor dos noviços e depois de governo, a partir de 1973: provincial até 1986, quando também terminou seu mandato de reitor. Estava acomodado com aquele modo de vida. Depois comenta a mudança forçada:

"Mas um desenraizamento como aquele, em que você é mandado para algum lugar remoto e o colocam como professor substituto, abala tudo. Seus hábitos, seus reflexos comportamentais, suas linhas de referência cristalizadas ao longo do tempo, tudo isso se transformou, desapareceu, e você deve aprender a viver novamente, a colocar sua existência novamente em ordem". 

Comenta, também, três coisas que o impressionaram naquele período:

1- A capacidade de rezar que diz ter recebido de Deus.

2- As tentações então sofridas.

3- Ter lido, como que por inspiração divina, o livro de 37 volumes chamado "História dos Papas", de Ludwig Pastor. Essa leitura foi como uma "vacina" que o preparou melhor para assumir o papado. Depois de ler a obra, nada agora que acontece na Cúria Romana o assusta. 

Conclui esse assunto dizendo: 

"A 'covid' de Córdova foi uma verdadeira purificação. Deu-me mais tolerância, compreensão, capacidade de perdoar. Também me deixou com uma nova empatia para com os fracos e indefesos. E paciência, muita paciência, ou seja, o dom de entender que, para as coisas importantes, é preciso tempo, que a mudança é orgânica, que há limites e que devemos trabalhar dentro deles e, ao mesmo tempo, manter os olhos no horizonte, como fez Jesus. Aprendi a importância de ver o grande no pequeno, e de ter cuidado com o pequeno nas coisas grandes. Foi um período de crescimento em muitos sentidos, como o brotar novamente após uma poda minuciosa". 

Ele termina dizendo que deve tomar cuidado, porque, quando a gente corrige uma falha, certos pecados, o diabo volta com mais sete outros espíritos piores do que ele (Lucas 11,25): "É com isto que devo me preocupar agora em minha tarefa de governar a Igreja: não cair nos mesmos defeitos de quando eu era superior religioso". 

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