O PAPA E JESUS NO HORTO




27/03/2020 

Eis um dia que dificilmente vou esquecer... 


O Coronavírus já matou 20 mil pessoas na Europa, até a data em que escrevi isto. E vai continuar a matar muitos, quem sabe até eu, que escrevo estas linhas... 

O Papa, sozinho, caminhava, na Praça de São Pedro completamente vazia, sob um chuvisqueiro, sem nenhuma proteção, cabisbaixo, carregando o mundo nas costas. E pareceu-me que o mundo lhe estava tão pesado! Havia um perigo enorme dele escorregar e levar um tombo, devido ao seu problema de locomoção. Aquilo estava liso!

Sem planejar, sem pensar, sem estar preparado, chorei convulsivamente como uma criança que vê sua mãe sofrer. Foi um choro que limpou minha alma desse peso que estes dias estão nos acarretando. 

Sem esforço algum de minha mente comparei a cena, que eu via, à agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. Como Jesus, o Papa previa os sofrimentos que ainda virão, e talvez, como Jesus, até  a intensidade deles. 

Nessas circunstâncias nós nos sentimos tão indefesos quanto aquelas formiguinhas minúsculas que vivem passeando em nossa cozinha, em busca de alimento. Quão pequenas são! Quão indefesas! Onde cabe algum órgão dentro delas? Mas elas vivem, e têm um faro fenomenal, que, em proporção a nós, não sei dizer cientificamente, mas talvez seria de vários quilômetros de distância. Mas, com uma só “dedada”, matamos uma carreirinha inteira, como o vírus está fazendo conosco. 

Um “bichinho” tão minúsculo, muito menor do que a formiguinha, o coronavírus, está fazendo esse estrago todo. E nós ainda nos ufanamos de sermos isto ou aquilo! Agora estamos “caindo na real”, de que não somos absolutamente nada! 

O papa caminhava silencioso e solitário. Entretanto, sabemos que talvez nunca antes um Papa foi tão acompanhado pelas pessoas quanto ele naquele momento. 

Se ele pudesse ver isso, saberia que não está solitário. Jesus estava solitário no Horto, a ponto de perguntar aos discípulos por que não tinham estado com ele na oração. 

Mas o Papa, a solidão dele era apenas aparente. Mesmo que no mundo todo uma só pessoa o acompanhasse pelos meios de comunicação, ele não estaria sozinho. 

Não foi Jesus quem disse que onde dois ou mais estivessem reunidos em seu nome, ali ele estaria? 

Jesus está conosco. Está deixando que a peste assole o mundo, mas está conosco. Quer talvez dar-nos uma chinelada, como as mães antigas (as atuais não podem senão vão presas), a fim de nos ensinar a sermos gente. 

Sim! A sermos gente! Animais nós já somos, e muitas vezes piores que os irracionais. Fui ali na esquina perguntar qual o preço do álcool gel, e o comerciante, sem sequer piscar, sem ter coragem de olhar para mim, me disse: “80 reais”. Um frasco pequeno, que antes eu achava caro pagar 8 reais! Se o seu cachorro tivesse inteligência ele faria isso? Quanto ele cobra para dar a você um carinho, uma festinha? Um cão que eu tive ainda teve forças de abanar pela última vez sua cauda, antes de morrer, quando eu lhe fiz um último carinho... 

Mas a atitude do Papa era de entrega. Ele é o chefe supremo da Igreja, criticado, muitos o criticam, muitas pessoas até da vida religiosa não o aceitam como Papa (eu já deletei todos os links dos sites dessas irmandades que não aceitam o Papa), e vejo uma semelhança incrível dele com a vida de Jesus: criticado pelas mudanças que fazia naquele tempo, criticado por sua misericórdia... E por quem? Por quem não queria mudar, não queria tentar o novo, não queria arejar sua vida... 

Ainda hoje, no Ofício das 12 horas, peguei sem querer o de amanhã e a leitura diz: “Lembra-te que tu és meu servo; eu te criei, és meu servo, Israel, não me decepciones. Desmanchei como uma nuvem teus pecados, como a névoa desfiz tuas culpas; volta para mim, porque te resgatei! (Isaías 44,21-22). 

Lembro-me também do final do livro de Miqueias: “Jogarei teus pecados no mais profundo do mar”. Deus é misericordioso. O Papa está aqui no lugar de São Pedro, chefiando a Igreja. Como Jesus, ele deve também ser misericordioso. Por que muitos não aceitam isso? 


O Papa, nosso Papa, LEGITIMAMENTE ELEITO PAPA, caminhava sozinho pela Praça de São Pedro vazia. Mas no mundo todo, milhões de pessoas, confinados como eu em suas casas, o seguiam com os olhos... e com as lágrimas.

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