RECALQUES, O LOBO E O CORDEIRO.



10/05/2019 

Muitas pessoas sofrem com seus problemas pessoais que contrastam com aquilo que ensina a Igreja ou que a sociedade exige e tentam, tresloucadamente, descobrir as origens desses problemas para vencê-los ou para eliminá-los. Na ânsia de viverem livres deles, acabam reprimindo-os, recalcando-os, e eles voltam com mais força. 


O recalque é como você afundar na piscina uma bola cheia de ar: quanto mais você a afunda, mais força ele tem para vir à tona. Isso é uma lei da física de ação e reação, a terceira lei de Newton. Ela pode ser enunciada da seguinte maneira: “Para toda ação (força) sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto”. 

Na espiritualidade isso também funciona desse modo. Ao recalcar, reprimir uma paixão, mais forte ela volta. A solução é fazer como muitas comunidades monacais fazem: conviver com o mal de modo humilde, sabendo que somos pecadores, seres humanos limitados. Você sabe que está rodeado pelo mal, mas sabe também que tem força para vencê-lo, se pedi-la a Deus. Se permanecermos humildes, veremos que “não temos como construir a casa”, como aquela parábola de Jesus, e vamos pedir ajuda a ele. 

Um modo vaidoso e prepotente de viver seria tentar recalcar as paixões, para que elas não incomodem mais: o resultado, como já disse acima, seria uma “revanche” da paixão, retornando mais forte. 

Jesus convivia com o mal. Ele convivia com os pecadores, de onde a gente presume que vinha o mal. O que ele buscava não era matar os pecadores para eliminar o mal, mas tentar trazê-los para o bem, para o verdadeiro caminho. 

Muitas religiões consideram o cristianismo um mal e tentam acabar com os cristãos. Isso acontecia na Roma antiga, e o efeito foi contrário: o cristianismo cresceu, floresceu. Que maravilha poder ver, por exemplo, muçulmanos convivendo com cristãos! Como dizia Isaías no início de seu livro, lobos e cordeiros pastando juntos! 

Eu já havia escrito um texto parecido com este em 2016 (que pode ser encontrado neste link: https://sites.google.com/site/vivendonazare/textos/letra-o/o-recalque-os-pobres), e transcrevo logo a seguir uma parte do texto. 

05/03/2016 

Eu estou dentro de uma determinada realidade e não adianta negá-la. Seria um desastre para o meu psiquismo. Negar a realidade é a maior causa de suicídios, depressão, tristeza, desespero, desistência. É preciso enfrentar a realidade em que vivemos, pois se não fizermos isso, acabaremos recalcando o fato. 

Recalque é algo pernicioso para nossa vida. Recalcar é, por exemplo, o diabético dizer para si mesmo que o bolo que está à sua frente não presta, está mal feito, está ruim. Este recalque vai impulsioná-lo a comer o bolo todo. Não recalcar seria enfrentar a realidade do diabetes e fazer para comer uma gelatina dietética, por exemplo, mesmo assumindo o fato de que o bolo deve estar uma delícia. 

Por que há tantos drogados e alcoólatras? Porque isso lhes dá prazer; para eles, é algo bom. Se não fosse bom, não haveria viciados! 

Recalcar é, pois, como afundar uma bola de futebol numa piscina: quanto mais fundo a colocarmos, com mais força ela aflorará. 

O primeiro passo para sairmos de uma realidade que não nos agrada é assumirmos e acreditarmos nessa realidade, ou seja, nos conscientizarmos de que ela nos pertence, nós estamos imersos nela. 

O segundo passo é verificarmos nossas armas. De que nós dispomos para “sair dessa”? A quem poderemos recorrer? Quais são os caminhos? 

O terceiro passo é tentar mudar essa realidade com as armas do segundo passo, ou, se percebermos que a realidade não pode ser vencida ou mudada, adaptarmo-nos a ela de tal forma que ela não mais nos agrida. 

É claro que em caso de pecado, nunca poderemos concordar. Daí, como diz Hebreus 12, 4, é preciso lutar até o derramamento de sangue na luta contra o pecado. 

Em relação a nós próprios, isso também é verdade: não adianta querer ser o que não somos. Se você nunca saiu do Brasil, não vá inventar uma viagem imaginária aos amigos. Eles vão pegar você na mentira! 

Muitos viajam e não aproveitam a viagem porque perdem muito tempo e oportunidades de relax ao tirarem fotos de modo desesperado. Se você fizer isso, coloque nelas a frase: “Eis os lugares em que me preocupei tanto em fotografar que não tive oportunidade de conhecê-los”. Outra coisa idiota desse tipo é comer uma comida falando em outra. Você já fez ou viu fazerem isso? Acontece muito! A pessoa está comendo frango frito, mas falando de peru assado. Se estiver comendo macarrão, fala da famosa lasanha que sua mãe fazia etc. O inteligente procura saborear e curtir aquilo que está comendo no momento! Isso é enfrentar a realidade! 

Numa paróquia rica da qual fui pároco, a promoção humana fez um jantar de Natal para os pobres, mas não levaram em consideração o que aqueles pobres gostavam de comer. Fizeram a comida de que os da classe média gostam. Resultado: sobrou muita coisa. Os pobres não comeram com gosto. O grupo veio falar comigo e eu lhes aconselhei, na próxima festa, fazer o tipo de alimentação que os pobres gostam: macarrão, arroz, feijão, frango, salada simples, sobremesa bem doce. 

Foi um sucesso. 

Precisamos, pois, enfrentar a realidade, e não inventar uma realidade que não existe. Quando saímos de nossa realidade com ideias estapafúrdias, sonhos impossíveis, apegos ao passado, quando vivemos mais no passado e no futuro que no presente, estamos perdidos. Não teremos passado quando estivermos no futuro! É preciso viver bem o presente, deixar pra lá o passado, que não mais nos pertence, e deixar nas mãos de Deus o futuro, que ainda não chegou. Como dizia Santa Faustina: “Ó tempo presente, só tu me pertences realmente”! 

Se cremos em Deus, ficaremos felizes de sempre fazer a sua santa vontade, e tudo o que acontece está sob seu domínio e sua onisciência. Ele sabe tudo e sabe o que será melhor para nós. 

Convivamos, pois, com o mal, estudando suas estratégias, captando suas mentiras, procurando seu ponto fraco, e, humildemente, consciente de nossos limites, peçamos a Deus que nos dê força para vencermos. 

O pior inimigo é aquele do qual não tomamos conhecimento. 

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