O ÚLTIMO ROUBO DE DIMAS

Dimas, Jesus e um outro ladrão agonizavam no alto do Calvário. Nenhuma esperança aparente. Tudo havia terminado. Os sonhos acabaram!
Um misto de terror e desespero aflorou na face do rapaz. Não esperava terminar assim seus dias na terra.

Olhou, do alto de sua cruz, o horizonte de Jerusalém. A tarde começava. O sol estava a pino, num dia quente de primavera. As flores formavam tapetes multicores nas campinas dos arredores. São muito belas as flores de lugares desertos!

Dimas reviu sua infância e sua juventude: sua mãe fora apedrejada à sua frente, por fanáticas autoridades religiosas. Tinha ele, então, oito anos de idade. Só depois ele soubera ter sido sua mãe apanhada em adultério. Ele só não entendeu, anos mais tarde, por que não apedrejaram também o homem que estava com ela!

Ele, num esforço, olhou para o lado e viu aquele jovem de 30 a 33 anos que morria ao seu lado, com uma sangrenta coroa de espinhos. Ele o vira várias vezes pregando um reino esquisito, em que não havia necessidade de roubos, pois todos teriam tudo! Não haveria brigas, pois todos se amariam; não haveria luta pelo poder, pois todos teriam os mesmos direitos e possibilidades.

Aquele jovem, que sabia chamar-se Jesus, defendera uma senhora pega em adultério! E, como sua mãe, não havia o homem com quem ela pecara. Dimas parecida estar ainda vendo a cena (João 8,1-11): os fanáticos arrastaram a mulher para perto de Jesus e lhe perguntaram se deveriam ou não apedrejá-la.

Dimas conhecia bem aqueles acusadores e sua hipocrisia! Vários deles já tinham estado com aquela mulher, e o que com ela estivera na última vez estava também com uma pedra na mão para atirá-la na coitada. Fazendo isso, estaria mais livre de suspeitas. Acusar, muitas vezes, é o subterfúgio que muitos usam para ficarem livres das críticas e das acusações. Acusar leva a atenção de todos para o acusado.

Voltando a olhar para o horizonte, Dimas viu o local fora dos muros em que apedrejaram sua mãe. “Se esse homem estivesse lá, minha mãe não teria sido assassinada como aquela outra que Ele salvou e perdoou e talvez eu não a teria tido a vida maldita que tive!”

Lembrou-se, então, dos crimes que cometera: assaltos, assassinatos, prostituições...

Veio à sua mente o bandido que o adotara após a morte da mãe. Ele o usava para roubos menores, nas praças, onde as pessoas se apinhavam para as compras, nas tendas e barracas em que se vendiam de tudo.

Menor abandonado! Era isso que Dimas fora! Um menor abandonado por todos! Uma escória da sociedade.

Voltou a olhar para aquele jovem que, coroado de espinhos, agonizava ao seu lado. Viu, então, aos pés da cruz, a mãe dele e um rapaz muito saudável, de seus 17 anos (São João Apóstolo): “Ele não foi um menor abandonado como eu! Eis sua mãe! Ele não foi desprezado! Eis um de seus amigos!”

Jesus era pobre, simples, operário, mas nunca foi abandonado, nem na vida, nem na morte: sempre estava acompanhado por algumas pessoas. Seus discípulos o abandonaram na crucifixão, mas nem todos. Sempre há os que permanecem fiéis.

Dimas olhou para baixo e não viu ninguém aos seus pés. Ninguém! Por mais pobre que Jesus tenha sido, Dimas, naquele momento, tinha a pior pobreza deste mundo: o abandono, o desprezo, a solidão visceral.

Em sua lembrança veio algo que disseram que Jesus falara “Felizes os pobres porque deles é o Reino dos Céus” (Lucas 6,20). “Como posso ser feliz, como pobre, abandonado e relegado a uma morte tão infame destas?”

Nisso ele ouviu uma frase proferida com muita dificuldade por Jesus:

“Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem!”

“Pai, perdoai-os! - Esse homem é realmente o Filho de Deus, como várias vezes afirmou! E se ele está pedindo ao Pai que perdoe esses desgraçados que o crucificaram injustamente – sim, pois ele só fez o bem – pode também me perdoar das besteiras que fiz durante a vida!”

Seu pensamento foi interrompido pelas imprecações do outro ladrão: “Não sois o Messias? Salvai-nos a vós mesmo e também a nós!” (Lucas 23,29).

Dimas sentiu uma ânsia de vômito. Tirá-los dali para quê? Para que eles voltassem a pecar, a roubar, a matar? Pelo contrário, se Jesus saísse dali, poderia continuar a fazer o bem para todos, mesmo para os que queriam matá-lo!

Dimas tinha a convicção de que aquele homem ao seu lado era santo, e o poderia introduzir num lugar melhor do que até então tinha vivido, por meio do perdão. Ouvira falar dos seus milagres e que até ressuscitara mortos! Aí caiu em si: “Meu Deus! Um homem que ressuscita mortos, que anda sobre o mar, que multiplica os pães e os peixes, que perdoa e pede ao seu Pai que perdoe a seus assassinos...”

Interrompeu os pensamentos para ouvir outra palavra de Jesus, dirigindo-se a sua Mãe e a João:

“Mulher, eis aí o teu filho! Filho, eis aí tua mãe!”

E continuou seu pensamento: “...Um homem que se preocupa em deixar a mãe protegida, por ser viúva e sem filhos, dando-a à proteção do jovem seu amigo...”

Viu que o soldado deu algo para Jesus beber e ele recusou.

“...Um homem que recusa beber algo que aliviaria sua dor, mesmo depois de ter dito que tinha sede! Se tinha sede, por que não bebeu o fel com vinagre que lhe deram? De que tipo de sede ele falara?”

E continuou:

“Se esse homem, com todo esse poder e com todos esses bons relacionamentos...”

Viu a túnica de Jesus e os soldados disputando-a na sorte.

“...Se esse homem, que tinha possibilidade de se vestir com tamanha dignidade, não quis sair da cruz para retomar a sua vida tão maravilhosa que até agora viveu... É porque está indo para um mundo muito melhor, para um reino muito mais bonito e justo do que este! E eu quero fazer meu último roubo: quero entrar com ele nesse reino!”

Tomando coragem conseguiu um pouco mais de fôlego para dizer ao outro ladrão, repreendendo-o:

“Nem tu, condenado ao mesmo suplício, temes a Deus? Nós, na verdade, estamos condenados com justiça, pois recebemos o castigo merecido por nossas obras, mas este nenhum mal praticou!”.

E voltando-se para Jesus, implorou:

“Jesus, lembrai-vos de mim quando vierdes com vosso reino!”

Na verdade, não esperava resposta alguma. Talvez aquele homem também fosse desprezá-lo, o que seria justo e natural. Mas arriscara “roubar” aquele reino que deveria ser maravilhoso.

Qual não foi sua surpresa quando Jesus olhou-o por entre as gotas de sangue que caíam de seus cílios e, num esforço supremo, por estar quase sufocado, disse-lhe como ninguém antes lhe tinha dito, com uma ternura que nunca mais ouvira depois que perdera sua mãe:

“Ainda hoje estarás comigo no paraíso!”.

Essas palavras o envolveram como um abraço materno. Entraram pelos seus ouvidos diretamente até o seu coração, acelerando sua pulsação. Aliviaram um pouco os tormentos daquela morte inútil, fútil e desgraçada.

Dimas conseguiu, então, sorrir, pois uma paz incrivelmente celeste o envolveu. Sentiu-se amado, “paparicado”, sentiu-se, ele também, filho daquela mulher que perdia o fruto de suas entranhas, filho do próprio Deus.

Por alguns instantes Dimas bendisse aquela cruz e aquela morte que, afinal, não estava sendo tão besta assim. Descobriu que era amado por Deus, na pessoa de Jesus, ali ao lado. Sentiu-se importante, pelo menos uma vez na vida, por ser digno de morrer ao lado daquele homem abençoado e tão querido de seu Pai celeste. Ele conseguira fazer o seu último roubo, e o mais rico de todos: roubara a Vida Eterna!

Nesse momento o sol, até então tão forte, foi coberto por nuvens escuras. Trovões e relâmpagos iluminavam em flashes de indignação aquela terra tão amada por Jesus, e as poucas pessoas que ainda ali permaneciam. Dimas ainda ouviu-o dizer: “Tudo está consumado! Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!” - e morreu, em meio ao barulho ensurdecedor de um céu revoltado contra esse crime nefando: a criatura acabara de matar seu criador! O restante da criação não assumira esse crime. 

As aves do céu voavam em todas as direções, os animais uivavam de tristeza, a terra toda estremeceu, rompeu-se, e muitos corpos ressuscitaram. O terremoto atingiu o templo, e rasgando seu véu ao meio, apodrecido pela revolta de crime tão bárbaro.

Dimas, em meio a isso tudo, pela primeira vez sorriu, embora tudo lhe doesse terrivelmente. Olhou para as nuvens enegrecidas, para aquela verdadeira apoteose da natureza que chorava por ter perdido o seu criador, e, sorrindo, murmurou: “Daqui a pouco, Senhor, eu estarei livre para alçar voo até o vosso Reino! Daqui a pouco eu me libertarei desta vida de horrores para a vida eterna ao vosso lado! Daqui a pouco eu vos abraçarei no vosso reino!”

Após algum tempo chegou um oficial e enfiou a lança no lado de Jesus, fazendo brotar sangue e água. Dimas percebeu que chegara sua hora de morrer, pois o oficial lhe iria quebrar as pernas, tornando impossível a respiração.

Quando ele sentiu a pancada em suas pernas, deu um maravilhoso e sereno sorriso para aquele cenário tão inusitado e ainda teve tempo de balbuciar:

“Este foi o meu golpe de mestre! Meu melhor roubo! Obrigado, Senhor!”
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Maria disse, em sua mensagem 458 de Anguera, que Dimas conhecia Jesus quando criança. Eis o que ela disse:

"Ainda criancinha, ao redor da pobre casa em que morávamos, o pequeno Jesus, sentado numa pedra, abençoava a todos os que ali passavam. Num gesto de infinito amor e bondade, levava água aos viajantes que vinham dos mais longínquos lugares. Todos O admiravam pela extrema bondade e amor. Recordo-Me que um dia, como de costume, recebemos um grupo de crianças, e entre elas uma bastante curiosa que Lhe fazia muitas perguntas. A criança chamava-se Dimas, e entre as várias perguntas, uma chamou a atenção: “Quando crescer quer ser Rei ou Profeta?”. Ao que o pequeno Jesus respondeu: “Eu sou o Rei dos reis. Eu sou o Profeta dos profetas. E digo mais: quando Eu estiver na Cruz, tu estarás ao Meu lado”. E acrescentou: “Em minha casa há um lugar para ti”. O pequeno Dimas continuou seu interrogatório, mas não compreendeu o que Jesus quis lhe dizer. 

Só mais tarde, na Cruz, ao lado do Meu Filho, recordou as palavras do pequeno Jesus. Como Mãe, acompanhava-O passo a passo e via como era grande o Seu amor por todos, e que mais tarde completara-se na Sua total entrega pela Salvação da humanidade. E o pequeno Deus foi crescendo e ao Seu lado estava Eu, que sempre O acompanhava e O ouvia falar às grandes multidões que, emocionadas, choravam de alegria".

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