TEATRINHO DE NATAL 2º ATO


2º ato
(D. Felisbina e o Luís, um rapaz de uns 15 ou 16 anos, mal vestidos. Eles estão num semi-círculo com o padre, o Carlos, D. Marly, e mais dois homens, o Gustavo e o Paulo, do conselho de finanças).
Comentarista- A tal reunião chegou. Após uma oração inicial, o padre Júlio explicou a todos o motivo da reunião. Estão ali o padre, o Carlos, D. Marly, o Luís, D. Felisbina, o Paulo e o Gustavo, que são do conselho de finanças e festas.
Pe.- Amigos, juntos vamos decidir quem vai e quem não vai utilizar o salão e o pátio nestes meses até o Natal. O Paulo e o Gustavo fazem parte do conselho de finanças. Vocês conhecem D. Marly, que não precisa de apresentação. Ela é nossa colaboradora
D.M (roubando a palavra)-E saibam que de onde veio o dinheiro com o qual por várias vezes ajudei a paróquia, tem mais!
Carlos- A senhora quer dizer com isso que se não for atendida vamos ficar sem a sua ajuda?
D. M.- É por aí! É dando que se recebe!
Paulo- Mas... padre Júlio! Isso é uma pressão! É injusto!
Gustavo-(meio afetado)- Gente, eu sempre fui fã de D. Marly e acho que ela sempre será bem vinda a esta paróquia. Atendê-la e dar a esses cachorrinhos um Natal mais gostoso vai custar menos e é algo mais realizável do que um posto de reciclagem, que demanda mais recursos materiais e humanos! A reciclagem pode esperar mais um tempo!
D.M- Seu Gustavo, muito obrigada! Quando o senhor precisar de alguma coisa, qualquer que seja, me procure!
Pe.- É... parece que já começamos a discussão!
Carlos- Ô, padre, a D. Marly é milionária e pode muito bem dar ela mesma os panetones para os cachorros, se quiser, e até mesmo uma cesta de Natal para cada um deles!(Todos riem, menos D. Marly). Mas as quermesses seriam muito úteis para a montagem do nosso posto de reciclagem!
D.M .- Não gosto de piadinhas maldosas, Sr. Carlos.
Pe. – Bem... vamos ouvir os outros dois, que ainda não falaram!
D.M-(interrompendo)- Antes que eles falem, devo dizer ao Sr. Carlos que não posso ajudar a D. Dida porque tenho que terminar a reforma de minha piscina e trocar o meu iate! Essas coisas custam dinheiro!
Pe. – Por favor, fale, D. Felisbina!
D. Felisbina- Ôceis mi discurpe d’eutá aqui, mais a recicrage vai sê bão pra muita genti! Vai dá mais dinhêro pros pobre como nóis!
Carlos- O Brasil desperdiça muito lixo reciclável e mujita matéria prima. Vejam estes dados (lê num papel): 50 Kg de papel usado substituem 1 árvore, que não precisa ser derrubada. 1000 kg de alumínio substituem 5000 kg de minério, que não precisa ser extraído! 1 kg de vidro quebrado dá exatamente 1 kg de vidro novo, mas se utilizarmos matéria prima, serão necessários 1 kg e 300 gramas para fazer 1 kg de vidro novo!
Pe.- Muito obrigado, Carlos, valeu! (Voltando-se à D. Marly) Dona Marly, a senhora já passou fome?
D. M.- Por que essa pergunta, padre?
Pe.- Simplesmente responda!
D.M.- Sim, por conta dos regimes que faço para emagrecer.
Pe- É bom passar fome?
D.M.- Eu detesto. Fico nervosa, angustiada, fraca.
Pe.- Quantas refeições a senhora faz por dia?
D.M- Bem... de manhã tomo o café da manhã
Pe. – Do que consiste?
D.M.- Ovos mexidos, iogurte, presunto, queijo, geleia, frutas, sucos naturais, bacon etc
Pe. –E o almoço?
D.M- O senhor se esqueceu do lanchinho das 10 hs: torradas com caviar e grapefruit (pronuncia-se greipefrut)
Luís- Nossa! U qui é issu, sô?
D. M.- É uma fruta chamada toronja. É parecida com a laranja, mas é importada. No almoço coisas mais simples: salmão, arroz à grega, molho tártaro, filé mignom com cogumelos ao molho suíço, salada mista.. às vezes capeletti ao molho de frango (o coordenador do teatrinho pode inventar outras comidas chiques).
Pe. – Sobremesa...
D.M.- Sorvete de nozes, ou doce de leite cremoso vindo diretamente da minha fazenda de Minas, ou coisas assim.
Pe. Café da tarde?
D.M. – Suco de laranja com bolo light.
Pe. – O jantar...
D.M- Salada mista, bisteca de boi ou de porco, sopa finlandesa, ou brodo italiano com vinho importado, ou presunto, ou simplesmente um xistudo, ou um prato árabe, como o tabule...
Pe.- E para o término da noite?
D.M.- Um aperitivo tipo Martini com petiscos, ou um achocolatado importado.
Pe. – Agora quero perguntar o mesmo a vocês dois (dirigindo-se ao Luís e à D. Felisbina). O que vocês tomam no café da manhã?
(D. Felisbina dá uma cotovelada no Luís, para ele falar)
Luís- Chá mate, quando tem, e, às veiz, pão duro qui a gente ganha da padaria. Num temo gais pra torrá u pão. Ás veiz a genti acha um pedaço de pissa (ele fala assim mesmo, com dois esses) no lixão (D. Marly faz uma careta de nojo)
Pe.- E o almoço?
Luís- Arrois, feijão, cebola cru
Pe.- Só cebola?
Luís – Não! Às veiz nóis encontra lata de sardinha ou ôtras coisa vencida, e ovo cuzido. Nóis num frita pruquê nóis num tem óio pra fritá.
Pe – Tem sobremesa?
Luís- Às veiz nóis comi fruita do lixão, ou pega fruita no fim da fêra. Só qui vai tanta genti qui quase num sobra.
Pe.- Comem alguma coisa à tarde?
Luís- Não. Só um chá mati, às veiz.
Pe.- E o jantar?
Luís- Nóis comi o qui sobra no armoço. Às veiz nóis consegui pão cum margarina, qui nóis come cum chá.
Pe- E para terminar o dia?
Luís-Chá mate. Às veiz, café, mais só di veiz im quando.
(Todos param de se movimentar, como se a cena se congelasse. O comentarista toma lugar à frente do palco ou de onde se está apresentando a peça e diz:)
Comentarista: Caros amigos e amigas: o autor deste teatrinho ficou em dúvida: Dona Marly se converterá ou não com essa demonstração de pobreza? Ela abriria as mãos para ajuda-los? Abriria mão de seu pedido para que eles conseguissem o dinheiro para o posto de reciclagem? Hoje em dia precisamos reciclar tudo o que for preciso, até a nós mesmos! Estamos falando do tempo de Natal, em que tudo é possível, os milagres acontecem... ou será que isso é apenas uma ilusão? Como ficará o coração de D. Marly? O Natal não se identifica com comes e bebes. Nós precisamos comemorá-lo mudando nossa vida para melhor! Jesus nasceu para tornar-nos cidadãos do céu, mas nós insistimos em viver aqui na terra, mesmo se isso for dolorido e penoso! Uma senhora, a D. Maria de Aguiar, filha de escravos, sempre dizia à uma sua amiga que fazia jejum no dia 24 de dezembro porque Maria, nesse dia, estava com todos os incômodos do nascimento de uma criança, no caso Jesus, e decerto não comeu nada! O Natal é a festa do amor que se encarnou, da misericórdia, da fraternidade, que muitas vezes confundimos com comes e bebes, e sempre com mais “bebes” do que “comes”! Que a comemoração do nosso Natal tenha esse sentido espiritual, e não material como costumamos fazer! Procuremos ser generosos e partilharmos com os que passam fome, não só nesse tempo, mas sempre! Mas agora vamos ver como o autor achou por bem terminar esta história!
(Dona Marly levanta-se, furiosa, dizendo:
DM- Isto é um complô contra mim! Foi tudo ensaiado! Nunca fui tão humilhada! Jesus mesmo disse que sempre haveria pobres! E ele deixou a pecadora ungir seus pés com perfume caro, em vez de gastar aquele dinheiro com os pobres do seu tempo! Padre Júlio, por favor, se esqueça de mim e do meu rico dinheirinho! (E sai, batendo os pés. Gustavo levanta-se e a segue, dizendo):
Gustavo- Eu vou acompanhá-la!
Pe.- Sr. Paulo, o que me diz?
Paulo- Sem dúvida alguma, padre, sou a favor da reciclagem1
Pe.- Que bom! É o melhor presente que esta comunidade recebeu! Não é um presente-consumo, comprado em lojas! (Dirigindo-se à D. Felisbina e ao Luís:) Quanto a mim, D. Felisbina, Luís, conhecê-los e fazer esta reunião foi o meu presente de Natal. Aproximou-me da classe mais humilde, falha esta que sempre quis superar, mas nunca tinha tido coragem ou oportunidade! Que bom é poder partilhar sempre (se abraçam).

D.Felisbina – Como o sinhô falô bunito!

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