DESIGUALDADE, POBREZA E VIOLÊNCIA
“No mundo, 56 mil
pessoas morrem de fome por dia. E 1 bilhão de pessoas são permanentemente
subalimentadas. Uma criança que morre de fome hoje é assassinada. Fome não é
mais morte natural. É massacre criminoso organizado”.
Jean Ziegler
Sociólogo suíço e
professor da Universidade de Genebra e da Sorbone (1).
Um estudo publicado
pela organização não governamental Oxfam International em janeiro deste ano.
Intitulado Working for the few (“Trabalhando para poucos”), o documento chama a
atenção para as crescentes desigualdades socioeconômicas, que nos últimos anos
têm sido motivo de grande preocupação não apenas para cidadãos e movimentos
sociais, mas também para políticos, economistas e empresários.
De acordo com o
estudo, sete em cada dez pessoas vivem em países onde as desigualdades
aumentaram nos últimos 30 anos. Mesmo nas nações onde elas diminuíram – como é
o caso, inclusive, de latino – americanas, entre as quais o Brasil – a
distância entre ricos e pobres continua enorme. Dados do Global Wealth Report
(“Relatório da Riqueza Global”), produzido pelo banco Credit Suisse, indicam
que 10% da população global detêm 84% de todas as riquezas do planeta, enquanto
os 70% mais pobres (mais de 3 bilhões de pessoas) ficam com apenas 3%.
Outra informação
instigante: nos Estados Unidos, o 1% mais rico da população ficou com 95% da
riqueza gerada após a crise econômica internacional de 2008, considerada a
maior desde a grande quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Enquanto isso, os
90% mais pobres – cujos impostos foram empregados para financiar o trilionário
pacote de recuperação oferecido aos bancos pelo governo norte-americano – foram
ainda mais prejudicados.
Situações como essa
reforçam uma percepção cada vez mais difusa de que a política produz leis que
beneficiam apenas os ricos. Uma pesquisa de opinião realizada pela Oxfam em
seis países (África do Sul, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Índia e Reino
Unido) aponta que a maioria das pessoas (80% dos espanhóis, por exemplo)
acredita que os ricos têm grandes influencia
sobre os rumos do país. “isso representa um desafio para a tentativa de
fortalecer a participação politica e construir sistemas políticos inclusivos.
Como disse o famoso juiz da suprema
Corte dos Estados Unidos, Louis Brandeis, ou temos democracia ou temos a
riqueza concentrada nas mãos de poucos, não podemos ter ambas”.
O professor de
economia política da Universidade Lumsa de Roma e do Instituto Universitário
Sophia, o italiano Luigino Bruni é especialista em Economia de Comunhão,
Economia Civil, Economia Social,
felicidade na economia e bens relacionais afirma: “Não podemos ignorar o
fato de que preocupa muito a Europa e o Oriente Médio, tem também razões
econômicas. Estudos demonstram que a desigualdade aumenta a violência e os
confrontos étnicos. Se queremos evitar micro e macro confrontos de civilizações,
devemos mudar as regras do jogo. Somente colocando os países mais pobres (penso
no continente africano em particular) em condições de desenvolver-se
economicamente será possível uma paz duradoura”.
O Futuro das
Crianças
“Evidências
recentes demonstram que a desigualdade de renda
e a desigualdade de oportunidade estão altamente relacionadas: O futuro
de uma criança é fortemente determinado pelo Status socioeconômico de seus
pais”, prossegue a organização, com base em pesquisa do professor Miles Corak,
da Universidade de Ottawa, no Canadá.
O acesso á
educação, por exemplo, é um elemento fundamental para garantir a mobilidade social. De acordo
com a Oxfam, as desigualdades salariais decorrentes dos diferentes níveis de
instrução são aceitáveis desde que todas
as crianças partam de uma situação de igualdade de acesso á educação de boa
qualidade. Quando isso não ocorre, as desigualdades socioeconômicas são
perpetuadas de geração em geração. (2).
América Latina e
Caribe continuam sendo a mais desigual do mundo, onde 82 milhões de pessoas
vivem com menos de USS 2,50 por dia; onde 21,8 milhões de crianças e
adolescentes estão fora da escola ou em risco de abandoná-la e 82 mil
adolescentes vivem com o vírus HIV (3).
“Construir pontes,
lutar contra a pobreza e edificar a paz. São essas as três principais linhas de
ação da diplomacia da Santa Sé no pontificado do Papa Francisco” afirmou o
Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado de Estado do Vaticano (4).
Não deve só o Papa
Francisco trabalhar em tais principais ações, mas todos devem intensificar com
profunda consciência a luta contra a desigualdade, a pobreza e toda forma de
exclusão. O respeito pela dignidade da pessoa humana é nossa missão concreta e
de eficácia radical.
Nosso Senhor Jesus
Cristo disse: “Pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt
24,12). O ser humano tomado pela tamanha avareza, ambição e pela idolatria do
poder e dos bens materiais, é totalmente frio, vazio, demeritório e
desintegrado do bem comum.
Quando se esfria no
amor, aquece o egoísmo; quando a caridade é congelada o calor da corrupção
esquenta a ganância do dinheiro; quando o materialismo, o individualismo e a
desigualdade imperam a pobreza, a miséria, a violência e o fanatismo tornam-se
causa de riquezas para poucos, enquanto a fome, as desgraças e a morte para
muitos.
De forma exortativa
e tão abissal afirma Jesus Cristo: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de
Justiça” (Mt 5,6).
Dai a nossa luta
pelo bem de todos, pela igualdade, liberdade, pela paz e pela justiça.
Pe. Inácio José do
Vale
Professor de
História da Igreja
Instituto de
Teologia Bento XVI
Sociólogo em
Ciência da Religião
E-mail:
pe.inacio.jose@gmail.com
Notas:
(1) O Globo-Prosa, 13/07/2013, p. 2.
(2) Cidade Nova, março de 2015, pp. 23, 24 e 26.
(3) O Globo, 05/10/2014, p. 19.
(4) O São Paulo, 18 a 24 de março de 2015, p.14.
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