OS MAGOS E A ESTRELA


24/12/1985 

Aquela noite parecia como as demais noites do oriente. Melchior, Baltasar e Gaspar, três magos importantes da religião que seguiam, reunidos talvez para uma festa de sua crença, contemplavam, como todas as noites faziam, o céu completamente sem nuvens. Foi Baltazar quem primeiro viu, brilhante, cintilante, parecendo querer dizer algo, expressando toda a alegria que os limites de um ser inanimado podem transmitir: a estrela. Era uma nova estrela, nunca vista por eles. Ficaram maravilhados. 

Gaspar lembrou-se, então, de uma tradição muito antiga que dizia: “Quando um rei nascer na terra. O seu astro brilhará nos céus”. Seria um novo rei? A estrela, como que ouvindo suas palavras, deslizou pelo céu em direção à terra dos judeus. Imediatamente os três magos deixaram tudo o que estavam fazendo, prepararam a caravana, como era costume naquele tempo, e partiram em direção a Jerusalém. 

Jerusalém estava quieta, sem novidades, a mesma rotina de qualquer outro dia. O Salvador do mundo nascera ali perto, mas ninguém o sabia. A luz do Altíssimo começara a iluminar toda a terra, mas todos a ignoravam. Quando a caravana dos magos entrou na cidade, entretanto, todos ficaram apavorados. As mulheres saíram em suas portas, fofocando, comentando, perguntando: “o que seria aquilo?”. 

Os magos foram diretamente para onde estão os reis, ou seja, o palácio real. Deram a notícia a Herodes. Parece incrível que os gentios, pagão, foram eles que notaram a presença de um novo rei no mundo. Não foram aqueles para quem esse rei, Jesus, nascera, os judeus. 

Herodes se apavorou com a notícia. Consultou os sábios judeus. Acharam uma profecia que dizia que o Salvador, o Messias, nasceria em Belém da Judeia. Ora, Belém fica a 142 km. de Jerusalém, o que não era muito. Os magos, aborrecidos, partiram de Jerusalém, deixando atrás de si a inquietude de uma cidade que nunca se converteria ao Filho de Deus, e que o mataria um dia, para que sua glória não ofuscasse o brilho da religião materializada que seguiam. 

Belém, cidadezinha tão pequena!” Apinhada de gente, pois a descendência de Davi, que estava toda ali, era muito numerosa. Em Belém não havia palácio algum. Onde procurar o Rei? Os magos começavam a se aborrecer com aquilo. Saíram de tão longe, vieram a essa terra esquisita, hospedarias lotadas, e voltariam para casa sem terem visto o novo rei nascido. Resolveram esperar a noite. Seus astros sempre lhes disseram o que fazer. Sua religião era baseada neles. E estes não os decepcionariam. 

A noite desceu sobre a terra. As estrelas brilhavam. De repente, como se fosse uma aurora em plena noite, a estrela do novo rei apareceu, cintilante. “Ei-la! Ela nos mostrará o caminho”! Mas a estrela não se mexeu. Apenas indicou vagamente um local na cidade, um pouco afastado do centro. Foram os pastores que indicaram aos magos o caminho: contaram todas as coisas bonitas que tinham ouvido dos anjos. E os magos, orientados pelos pobres pastores, descobriram Jesus na gruta de Belém. Os pobres, orientando o caminho para os ricos. Os simples, indicando o caminho a seguir para os sábios. O próprio Jesus disse, em sua vida: “Agradeço-vos, ó Pai, porque ensinastes estas coisas aos pequeninos e as escondestes ao sábios”!(Mt 11.25). 

Mas o verdadeiro sábio é aquele que sabe ouvir, que sabe seguir um caminho, mesmo que esse cami9nho seja indicado por um mais ignorante que ele, mas pobre do que ele. Se os ricos e os sabichões de hoje em dia aprendessem essa lição, o mundo seria tão melhor do que é! Porque os pobres e os simples costumam estar continuamente em contato com Deus. Que para eles é tudo. Eles não podem viver sem Deus. Não há como! Seus bens, quase inexistentes, não lhes dão a segurança dos ricos. A segurança dos pobres e dos simples está em Deus! 

E os magos souberam disso tudo. Eles foram humildes. E adoraram o novo rei, que estava deitado num cocho de capim, que enfeitamos com o nome de “manjedoura”. Maria e José estavam um tanto sem jeito em receberem aquelas personalidades tão ilustres naquele lugar tão simples, mas o pobre não sente vergonha de sua pobreza! O verdadeiro pobre não tem como enganar o ilustre visitante, o rico, o patrão... 

Muitas pessoas da classe média vivem frequentemente fazendo isso: tentam viver uma vida de luxo que o dinheiro não consegue suportar. E ei-los emprestando dinheiro deste Banco para depositar em outro, com a corda sempre no pescoço. E como fingem! Fingem um estilo de vida que, na verdade, não podem sustentar. A simplicidade e a verdade os ajudariam tanto! Vejam a família de Jesus. Receberam os pobres pastores tão simplesmente como os grandes “reis” magos. Da mesma forma. Sem fingir. 

E apareceram os presentes: ouro, incenso e mirra. Essas especiarias eram produtos da Arábia. Será que os magos sabiam o que realmente representavam? Estariam eles sabendo que o ouro, símbolo da realeza, ali na gruta queria coroar Jesus Cristo “Rei de todo o universo”? Que o incenso, usado para os deuses, ali na gruta queria louvar o Deus verdadeiro e único, na pessoa humana de Jesus? Que a mirra, mais do que um perfume, queria mostrar a realidade de um Deus feito homem que iria morrer para nos salvar? Que os judeus iriam matar o próprio autor da vida? 

Os magos compreenderam, nos limites de seu paganismo, que algo muito superior e magnífico estava para ser realizado ali. Algo que já começara a ser realizado. E todos nós, que não somos judeus, estávamos ali representados pelos magos. Que maravilha saber que alguns de nossos antepassados foram adorar Jesus! Não foi privilégio dos judeus. Nós também estávamos lá! Mas, triste ironia, os judeus não aceitaram o Salvador. Como o jovem rico, os judeus não tiveram a coragem de deixar tudo o que tinham: leis preceitos, tradições, para abraçar com coragem e confiança a Lei do Amor, Jesus Cristo. E os pobres, os pagãos, os deserdados, os marginalizados da época, como nada tinham a perder, abandonaram-se nos braços de Deus, estendidos por meio de Jesus Cristo, na cruz. E acreditaram. 

Os magos seguiram seu caminho de volta. Alegres. Eles viram e adoraram o novo Rei que nascera. Era tudo estranho e esquisito para eles. Mas algo, no coração, lhes dava a confiança de que fizeram a coisa certa. A sensação deliciosa do dever cumprido inundava seus corações humildes. E Jesus sorriu mais gostosamente ainda, lá no seu cocho de capim que lhe servia de berço...

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