FESTA DE CRISTO REI
25/11/2012 –
É a festa que celebramos
no último (34º) domingo do tempo comum, imediatamente antes do Advento. Diz o
Missal Dominical: “Jesus Cristo é rei porque é o único mediador da salvação de
toda a criação.
Nele todas as coisas encontram seu acabamento, sua verdadeira subsistência, segundo o desígnio criador de Deus”.
Nele todas as coisas encontram seu acabamento, sua verdadeira subsistência, segundo o desígnio criador de Deus”.
Houve um entendimento
“atravessado” nesse fato da realeza de Cristo na História da Igreja do passado,
por causa destas premissas:
Hoje em dia há uma certa
tendência por parte de alguns membros do clero, em portar-se, como dizia um
pregador de retiros, “de tal modo que nada deixam a desejar à rainha de Sabá”.
Precisamos sanar essa
falha em nossa Igreja, com o mesmo afã com que combatemos a pedofilia e coisas
desse tipo.
Jesus foi bem claro ao
afirmar que não veio para ser servido, mas para servir (Jo13,14-15; Mt 20,28).
Já dizia um de nossos bispos eméritos (não sei se o D. Pedro Casaldáliga ou D.
Valfredo Tepe) que “Ou a Igreja de Cristo é pobre ou não é a Igreja de
Cristo!”.
A atitude de quem pensa
que tem ou está no poder é olhar os outros de cima para baixo. Ao atender
alguém, sente-se como o rei atendendo o súdito.
Vejam isso na comunidade
ou em qualquer grupo de pessoas: basta um pouco de poder e a pessoa, que até
então parecia humilde e simples, se torna uma pessoa altiva, achando que “tem o
rei na barriga”. A única pessoa que teve o rei na barriga foi, de fato, Maria,
quando concebeu Jesus, e é a mais humilde criatura que até então apareceu aqui
na terra!
Uma das consequências de
quem pensa que “está com tudo” é o modo de atendimento. Uma pessoa humilde, que
sabe que está a serviço e não para ser servida, é sempre humilde, serviçal,
sempre está pronta a atender qualquer que seja. Veja como Jesus atendia a todos,
embora sempre estivesse rodeado por tantas pessoas que o pressionavam por todos
os lados, em todos os sentidos. Até tinha um tempinho para as crianças, coisa
que ninguém tinha naquele tempo: as crianças eram consideradas um zero à
esquerda. Aliás, até as mulheres eram assim consideradas. Jesus atendia tanto
uma como outra. Sempre estava pronto para ouvir, embora tivesse tanto para
dizer.
Aliás, ele dizia mais com
esses gestos de atenção e atendimento do que com suas palavras, pois estas eram
confusas e incompreensíveis para as pessoas da época. Seu bom exemplo era sua
melhor e maior pregação. Isso levou o Beato Ir. Carlos de Foucauld a dizer que
devemos “Gritar (e não apenas proclamar) o evangelho (não só com as palavras,
mas também...)com a vida!”.
Uma coisa de que peço
muito perdão a Deus é de tantas vezes que atendi mal algumas pessoas. Tantas
vezes eu as atendi como se eu estivesse prestes a carregar uma cruz
pesadíssima, ou que elas fossem atrapalhar todos os meus compromissos. Aliás,
algumas vezes esses compromissos não eram assim tão urgentes e podiam esperar.
Nessa caminhada de volta
para casa (eles também eram vizinhos), o amigo desse meu amigo lhe confidenciou
que estava para cometer suicídio (inclusive já estava com um pequeno revólver
no bolso), por causa de vários problemas, que lhe enumerou.
O meu amigo deixou tudo o que tinha que fazer
(era professor) e conversou longamente com o rapaz. Este acabou desistindo do
suicídio, viu, pela conversa, que havia um modo de recomeçar sua vida e superar
as dificuldades. O rapaz morreu vinte anos após essa conversa, daquela doença
conhecida popularmente como “bicho de porco na cabeça”.
Há um filme antigo em que
um rapaz de uns 16 anos leva nas costas seu irmãozinho aleijado, de uns 9 anos,
de uma cidade da Itália para outra, após um bombardeio em que perderam a
família. Iam com outras pessoas a um tipo de orfanato ou casa de atendimento aos
menores desabrigados.
Depois das peripécias
enormes que encontraram, que duraram o filme todo, ao chegarem na cidade e na
casa onde iam morar, o padre, vendo o rapaz estafado sob o peso do irmão (que
trazia nos ombros por todo o trajeto), lhe disse: “Meu filho, ele não lhe está
pesando nos ombros?” O rapaz, sorrindo, respondeu ao padre: “De jeito algum,
senhor padre! Ele é meu irmão!”
Muitos católicos abandonam
a nossa Igreja e se aliam aos evangélicos simplesmente por causa do
atendimento, que acham ser melhor do lado de lá. Eu pergunto: Será que não têm
certa razão? Graças a Deus apareceram grupos de atendimento nas paróquias, como
os da RCC (embora muitos não gostem muito desse movimento) e a pastoral da
acolhida, que procuram atender as pessoas com paciência e sem olhar para o
relógio.
Por falar nisso, já
percebeu que muitas pessoas sempre estão com pressa quando alguém quer falar
com elas? O pior de tudo é quando ficam olhando ao relógio!
Jesus é Rei, sim, mas um
Rei que veio para servir e nos ensinar que só entra no Reino de Deus quem está
disposto a servir, a ser o último de todos. É como o caso da galinha que
cacarejava ao pôr um ovo. Um peixe fêmea ouviu, pôs a cabeça para fora do rio e
perguntou a ela o que estava acontecendo. A galinha respondeu: “Ora, eu pus um
ovo!”. A “peixa” mergulhou novamente e pensou: “Nossa, já pensou se eu fizesse
isso a cada um dos milhares de ovos que ponho?(Infelizmente eu me esqueci onde
eu li isto. O autor que me perdoe).
Estar a serviço
gratuitamente, sem exigir nada em troca, nem mesmo o agradecimento: eis o
caminho dos que querem participar plenamente do Reino de Deus.
Que a festa de Cristo Rei,
que comemoramos no último domingo do tempo comum (34º), nos faça lembrar de que
Jesus nos deu o exemplo de pobreza, serviço, humildade e santidade. Se tivermos
alguma dignidade eclesiástica, ou seja, quem for diácono, padre, bispo ou algum
tipo de chefe de comunidade, sejamos imitadores de Jesus-Rei, e simplifiquemos
a nossa vida, lembremo-nos sempre que, ao invés de “egrégios senhores”, sejamos
“ternos pastores”, como diz um dos pais da Igreja primitiva.
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